Renovando o visto

Há um ano eu recebia a notícia que havia passado no mestrado em Educação e Globalização da Universidade de Oulu e caindo no clichê de “nossa, como esse ano voou”, lá fui eu renovar o visto para o meu segundo ano, pois apesar de o curso ser de 2 anos, a Finlândia só emite visto de 1 ano.

As coisas por aqui nunca são muito claras, parece que eles querem que você corra atrás mesmo ou junte os pedaços de um quebra-cabeça. Eu já notei que as instruções nunca são 100% claras nem nas aulas, mas isso é outro assunto. E chegando perto de renovar meu visto, eu não achava informação em lugar nenhum na universidade de como proceder. Sim, eu sou adulta e posso fazer isso sozinha (como, aliás, fiz), mas sendo que é um curso voltado para alunos internacionais, poderiam ter dado orientações básicas sobre isso, acho eu. Nos sites oficiais também não é fácil achar instruções claras e objetivas de como proceder, então eu fui juntando o que achei na internet e o que as pessoas me diziam e este post é para dar o passo-a-passo.

A primeira coisa é agendar um horário na delegacia de polícia local e para fazer o agendamento, não é necessário ter começado o processo de solicitação de visto. Eles alegam que o prazo para processar o pedido de renovação de visto de estudante é de 3 a 4 meses, o que muito me surpreendeu, pois o prazo do primeiro visto é de 30 dias, sendo que o meu foi aprovado 9 dias depois que compareci a embaixada finlandesa em Brasília. Por este motivo, é bom também tentar agendar a visita na polícia pelo menos 3 meses antes do vencimento do visto – eu fui com exatos 4 meses de antecedência.

Há duas opções de solicitação de visto: online ou sendo old school e fazendo tudo no papel. Caso faça online, o formulário só poderá ser preenchido a partir de 30 dias antes do dia marcado na polícia, mas já tendo em mãos todos os documentos solicitados, pois é necessário escaneá-los e anexá-los no site. Os documentos são:
– cópia do passaporte
– comprovante de seguro saúde (este ano optei pela Swisscare, que é mais barata que a recomendada pela universidade)
– certificado de frequência emitido pela universidade
– histórico escolar dos cursos cursados até o momento
– extrato bancário comprovando 6720 euros
Quando a solicitação é feita online, o pagamento também deverá ser feito antes de enviar o pedido. Um inconveniente muito grande é que eles só aceitam transferência bancária e aqui na Finlândia para se ter internet banking é necessário ter o Finnish ID, que custa 54 euros e eu não fiz porque não sou obrigada. Se optar pelo formulário impresso, o pagamento é feito no local e o valor é o mesmo: 119 euros.

Quando comparecer a polícia, independente de ter optado pelo formulário de papel ou solicitação online, é preciso levar todos os documentos listados para conferência, o passaporte, o visto atual e uma foto recente.

Bia na polícia

Cheguei lá com mais de 20 minutos de antecedência e no balcão de informações me disseram para eu aguardar perto dos últimos guichês. Quando a pessoa que estava sendo atendida saiu, eu fui no guichê dizer que estava lá para renovação de visto.

– Oi, eu tenho horário marcado para renovar meu visto às 15h.
A mulher do guichê olha para o relógio. Eram 14h53.
– Eu sei. Aguarde.

Então tá, né. Quando deu 15h, ela chamou meu sobrenome (não sei porque, mas em todo lugar as pessoas não te chamam pelo primeiro nome). Entreguei passaporte e visto, ela escaneou e foi pedindo os documentos originais para checagem um a um. Quando chegou a vez de mostrar o extrato bancário eu já estava um pouco apreensiva, pois estava apresentando um extrato do meu banco do Brasil, que minha mãe me enviou pelo correio, pois foi assinado e carimbado pelo gerente, e eu não tinha muita certeza se iriam aceitar ou não.

Ela olhou o extrato e me perguntou o que era aquilo. Expliquei. Ela ficou resmungando que não estava em inglês e ela não entendia. Viu o número na conta e perguntou se aquele valor era em euros. Expliquei que era minha moeda local e bastava checar a cotação do dia. Ela me perguntou quanto aquilo valia, aí no meu celular eu abri um destes sites que convertem moedas e mostrei que naquele dia 1 real valia 25 centavos de euro. Ela pediu para eu fazer a conta e no próprio site mesmo, eu coloquei o valor para conversão e mostrei a tela do celular. Ela não questionou a veracidade da informação e anotou o correspondente em euros. Perguntou se eu tinha conta bancária na Finlândia, pois normalmente eles só aceitam extratos finlandeses (isto não estava escrito em lugar nenhum nos sites da imigração ou da polícia). Eu disse que sim, mas que meu dinheiro estava no Brasil (heeeello). Ela fez umas caretas, mas como o saldo era mais que suficiente para os próximos 12 meses, ela resolveu aceitar, mas não sem antes me fazer explicar cada detalhe do extrato. Justo.

Finalmente, ela me pediu a foto. O tamanho padrão de foto na Finlândia é 3,6×4,7 e por conta destes milímetros a mais de diferença alguns conhecidos brasileiros já tiveram suas fotos negadas e precisaram desembolsar o equivalente a 65 reais para tirar fotos aqui. Eu resolvi tentar a sorte, porque eu sou brasileira e não desisto nunca. Dei minha foto, ela fez outra careta e disse que era muito pequena. Eu com minha maior cara de tonta respondi que aquele tamanho foi aceito pela Embaixada da Finlândia no Brasil e se o sistema era o mesmo, logo… Ela ficou resmungando e disse que tentaria escanear para ver se o sistema aceitaria. É óbvio que aceitou.

Entendeu? Visto de estudante com permissão para trabalhar... tá tudo escrito aqui!
Se aceitaram a foto para emitir o primeiro visto, por que não aceitariam para o segundo, não é mesmo?

Em 20 minutos o processo todo terminou, ela me deu um comprovante em finlandês (que eu preciso apresentar quando retirar o visto novo) e disse que eu deveria voltar lá para apresentar meu comprovante de matrícula para o próximo semestre assim que possível e aguardar de 3 a 4 meses pelo novo visto.

Pois é, o mestrado passou de sonho a realidade e agora já estamos halfway there.

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Um dia em Londres I

Na Europa, no fim de março, as escolas costumam ter o Spring Break, uma semana de “férias”. Na Finlândia, ao invés disso eles têm o Winter Week no início do mês. Agora tirem suas conclusões sobre o clima nessas bandas do mundo.

Apesar de ser uma semana de feriado, os professores do mestrado sempre nos lembram que é apenas uma semana sem aulas presenciais com foco no estudo individual. Mas claro, eles também nos perguntam quem vai “estudar em outro lugar” e eu fui estudar passear no Reino Unido.

Embora eu já tenha ido para a Inglaterra 3 vezes antes (Londres em 2009 e 2012 e Liverpool em 2013) e se considerarmos Reino Unido, ainda dá para colocar mais 2 vezes na conta com Escócia e Irlanda do Norte, este foi meu destino do feriadão.

Londres, 2009
Londres, 2009

Todas as outras vezes que entrei no Reino Unido, com exceção de 2009, foi saindo de Dublin, então não vi imigração. A imigração inglesa é uma das mais rigorosas e temidas (pelo menos, eu temo, apesar de nada dever) e já fui preparada para as perguntas. Em 2009, o oficial só faltou perguntar a cor da minha calcinha, então eu tinha certeza que pior que aquilo não poderia ficar.

Já cheguei entregando meu passaporte com meu visto finlandês, que era pra oficial logo ver que eu já estava morando legalmente na Europa, seguindo minha vida com o Olaf, e estava de boas de querer imigrar ilegalmente na terra da Rainha.

– Está viajando sozinha?
– Sim.
– O que você faz na Finlândia?
– Mestrado.
– Em que?
– Educação.
– Posso ver sua carteirinha de estudante?

Ela tentou escanear meu passaporte, mas não sei por qual motivo, a máquina não lia. Ela “escondeu” o passaporte perto do colo dela e continuou:

– Onde seu passaporte foi emitido?
– Em Dublin.
– Em que ano?
– 2013.
– Por que?
– Porque eu estava morando lá nesta época.
– E o que fazia lá?
– Era estudante.
– De que?
– Inglês.
– Você ainda tem vínculos com a Irlanda?
– Não.
– Você já esteve no Reino Unido antes?
– Sim, em 2009. Mas o visto está no passaporte vencido, neste não tem nada.

O passaporte ainda não queria passar pela máquina. Então, ela o entregou para um outro oficial que usou aqueles “óclinhos” para analisar se meu passaporte era verdadeiro. Claro que é. Ela o pegou de volta e começou a folheá-lo realmente parando e olhando cada visto que eu tinha.

– Você tem sua passagem de volta para Finlândia?
– Sim.
– Posso ver?

Depois de ter certeza que eu não queria imigrar ilegalmente e estava lá de boas curtindo uns dias no Reino Unido, ela carimbou meu passaporte e me liberou. Notem que ela não pediu comprovação de fundos ou reserva de acomodação e acredito que isso só não aconteceu porque eu mostrei meu visto finlandês no ato.

Finalmente, encontrei o R. em Londres à noite e fomos para o hostel, que eu não recomendo à ninguém. O Smart Hyde Park Inn só tem nome e fachada bonitos, de resto… tudo bem que como era apenas uma noite, optamos pelo hostel mais em conta numa boa localização, então não podíamos esperar muito. É bem aquele tipo de hostel gigante, com muitos quartos e muitas pessoas dormindo neles. O quarto fedia (aquele cheiro de gente respirando num lugar fechado, sabe?), eu achei baratinhas no banheiro e o chuveiro é daqueles que você precisa ficar apertando a cada 30 segundos, como torneiras de banheiros públicos. Ou eu estou escolhendo péssimos hostels ultimamente ou já estou chegando na hora de parar de me hospedar neles.

A ideia era passar um dia na capital inglesa para ir em alguns lugares que eu nunca tinha visitado e tirar umas fotos com o R., que também já havia conhecido a cidade em outra oportunidade. Foi mais um dia de passeio do que de turismo.

Portobello & Camden Town

São duas famosas áreas da cidade por suas lojinhas, feirinhas e restaurantes. Portobello é uma rua de comércio com lojas e barraquinhas que vendem desde souvenir para turista até frutas e legumes.

Portobello Road
Portobello Road

O lugar também é conhecido por vender antiquidades e vimos muitas coisas interessantes. Eu não tinha intenção de comprar nada, aí vi um vestido lindo… já tem uns 2-3 anos que eu amo comprar saias e vestidos, mas não em lojas, gosto de ir em feirinhas como a que acontece todos os domingos no Shopping Center 3 em São Paulo. ❤ Bem, nesse frio eterno finlandês, eu ainda não aprendi a usar saia e vestido e ainda me manter aquecida – aliás, eu nem trouxe vestidos – e quando vi aquela gracinha me olhando, converti o valor de librar para reais (enquanto eu gastar em moeda estrangeira o que ganhei em reais, sim, eu vou converter) e ainda achei o valor justo. Aguardando ansiosamente o dia de poder usá-lo (tipo, quando parar de fazer temperatura negativa em Oulu por mais de uma semana).

Antiquidades de Portobello
Antiquidades de Portobello

Estava um lindo dia de sol e fazia uns 6 graus – e eu estava morrendo de calor usando o casacão que trouxe da Finlândia. Depois de tanto tempo vivendo abaixo de 0, qualquer sol vagabundo com temperatura positiva faz a gente assar! 🙂

Pegamos o metrô e seguimos para Camden Town, outra região de comércio. Parênteses. A malha metroviária de Londres é enorme e uma mesma linha pode ter pontos finais diferentes ou no mesmo trilho passar trens para destinos diferentes, enfim, não é para amador. Nós pegamos trem errado mais de uma vez e chegamos à conclusão que foi mais fácil nos virar no metrô da Rússia em cirílico do que lá. há. Fecha o parênteses.

Eu sempre ouvi falar do lugar, mas por algum motivo não o visitei nas outras duas vezes que estive na cidade. Chegando lá, vi o famoso market e resolvi entrar para dar uma olhada. E o que tem lá? Várias barraquinhas vendendo roupas, sendo algumas falsificadas de grandes marcas, acessórios, arte e outras coisinhas. Para quem é de São Paulo, imagine aquele monte de barraquinha vendendo roupas falsificadas e acessórios na saída do Terminal Parque Dom Pedro II – é a mesma coisa!

Na região tem outras muitas lojas e próximo ao canal tem um mercado cheio de barraquinhas de comidas típicas de várias partes o mundo. Encontramos, inclusive, uma barraquinha de docinhos brasileiros. O local estava muito cheio, mesmo sendo sexta-feira à tarde!

1,50 pounds por brigadeiro! O.o
1,50 pounds por brigadeiro! O.o

Vale a pena visitar os mercados a céu aberto? Vale, sim! É bacana para conhecer um pouco mais da cidade e é um passeio ótimo para quem gosta de olhar lojinhas e experimentar comidas diferentes. 😉

Burocracias

Além de me organizar para me tornar oficialmente uma mestranda e mobiliar meu quarto, ainda precisava dar conta de outras burocraciazinhas. Ou vocês estavam achando que isso não existia na Europa? #chocada

Na minha primeira segunda-feira aqui fui ao centro da cidade para a cerimônia de abertura do ano letivo de 2015. Foi super entediante legal porque 90% da cerimônia, que teve a participação do reitor e do prefeito da cidade, foi em finlandês.

Cerimônia de abertura
Cerimônia de abertura

Tirando a parte que deram um suco que parecia xarope com água e sopa de ervilha de graça, eu podia ter passado sem esse evento sem graça e em finlandês. Resolvi sair antes do fim e ir ao cartório da cidade me cadastrar. A Finlândia tem uma coisa de precisar saber exatamente quem está morando aqui, então todos os estrangeiros precisam ir ao cartório para informar que já estão residindo no país – me parece que os números vão para alguma espécie de censo. Lá fui eu com meu passaporte, visto e carta de aceite da universidade e depois de 20 minutos de espera, mostrei todos os documentos junto com um formulário preenchido com todos os meus dados. Preciso informá-los sempre que mudar de endereço e antes de ir embora preciso voltar lá para dizer que vou me mudar. Eu me pergunto se todos os estrangeiros fazem isso de fato. Ah, europeus também precisam informar as autoridades que estão morando aqui por mais de 3 meses. Curiosos esses finlandeses, né?

Apesar de já ter pago o depósito para garantir meu quarto enquanto ainda estava no Brasil e já estar morando na casa, eu ainda precisava ir ao escritório do PSOAS assinar o contrato (aquele que o banco do Brasil já queria assinado para poder enviar meu pagamento para o exterior) e regularizar toda a minha situação.

O famoso PSOAS
O famoso PSOAS

Peguei a senha e esperei um pouquinho, afinal, começo de semestre tem sempre um monte de gente chegando e tudo fica mais cheio. O escritório tem uma cara de “oi, fui feito para jovens” e a parte mais legal é que tem máquina de café free – e o chocolate quente deles é sensacional de bom (a viciada em chocolate quente). Não bastasse isso, ainda tem um freezer cheio de sorvete que também é gratuito (a essa altura do blog, vocês já devem imaginar que eu só penso em comida).

Assim a gente até espera com vontade!
Assim a gente até espera com vontade!

Assinei o contrato, ganhei uma caneca (esse PSOAS é lindo, né?) e peguei o boleto para pagar a taxa de internet. Eu tinha duas opções: pagar 25 euros para ligar minha internet e depois free pro resto da minha estadia aqui ou além de pagar os 25 euros iniciais, pagar mais 10 euros mensais para ter internet 10 vezes mais rápida. Mas vamos combinar que eu não jogo nem o jogo da cobrinha no celular (isso ainda existe), quanto mais no computador e pouco vejo filmes/seriados online (eu até tento me organizar pra ter tempo pra essas coisas, mas acabo desperdiçando a vida na internet em geral mesmo), então não havia razão para pagar 10 euros mensais por uma internet mais rápida. Não tive nenhum problema com a velocidade de conexão até agora e costumo desperdiçar a vida ver muitos vídeos no Youtube. Ah, detalhe que é internet de cabo, ou seja, meu laptop está ligado na parede! Eu não sei nem quanto tempo fazia que eu tinha visto isso pela última vez e agora toda vez que ligo meu computador preciso conectar-me a internet. Tudo se resolveria se eu tivesse um roteador, algo que talvez compre mais pra frente pra poder usar meu celular enquanto estiver em casa e usar o laptop onde quiser.

Bem, aí eu precisava pagar meu primeiro aluguel (que vence todo dia 5) e o boleto de internet, então resolvi ir abrir conta no banco. Há algumas opções por aqui, como o Danske Bank que, aparentemente, não aceita mais abrir conta para não-europeus (um minuto de silêncio), o Nordea e o OP. Como o Nordea só abre conta com agendamento prévio, resolvi abrir no OP que fazia o serviço na hora. Com todos os documentos necessários, abri a conta e assinei um documento em finlandês sem fazer ideia do que estava escrito lá. Em seguida já depositei o dinheiro na conta e paguei os boletos. Aliás, o blog merece ganhar um post só para falar dos bancos da Finlândia e seu sistema meio idade da pedra. Mais uma vez comprovo que o sistema bancário brasileiro está anos luz na frente do resto do mundo.

A agência... no Brasil, só a versão "ryca" do meu banco é assim!
A agência… no Brasil, só a versão “ryca” do meu banco é assim!

A bicicleta é o principal meio de transporte dos estudantes da cidade, mas a gente nunca sabe quando vai precisar usar ônibus. A tarifa é muito cara por aqui (aliás, o que não é caro nesse fim de mundo?) e se você se cadastrar para ter o bilhete de ônibus, ganha descontos e se for estudante, ganha mais desconto ainda. O valor integral é 3,30 euros, mas com o cartão e desconto de estudante cai para 2,05, então, alguns dias depois de ter feito tudo isso, fui no centro de turístico solicitar o meu. O cartão custa 3 euros e a recarga mínima é sempre de 10 euros.

Contrato da apê assinado, internet ligada, conta no banco aberta, cartão do ônibus na carteira, vida de mestranda inciada e quarto mobiliado. Eh, agora estou finalmente pronta para começar minha rotina em Oulu.

O que falar dessa cidade que mal conheço, mas já considero pacas?
O que falar dessa cidade que mal conheço, mas já considero pacas?

Enfim, mestranda!

Se você achava que por ter viajado a Brasília para tirar o visto depois de toda a burocracia para marcar a entrevista seria suficiente para eu chegar aqui e ir estudar, bem, saiba que isso era só a ponta do iceberg.

Meu visto, ou resident permit como eles gostam de chamar, é só meu free pass para entrar no país. Para me tornar oficialmente mestranda há toda uma burocracia e jogo de cintura para lidar com tudo.

O primeiro passo foi comparecer a Orientation Fair na Universidade para poder agilizar o processo. Apesar do ensino ser gratuito aqui na Finlândia por enquanto, eu sou obrigada a pagar uma taxa para o grêmio estudantil – coisa assim de 109 euros, troco de padaria. SQN. Este valor cobre meu primeiro ano e deverá ser pago novamente quando eu renovar o visto. Com o recibo em mãos, eu posso ir ao que eu traduziria como Seção de Alunos e solicitar meu cadastro para obter um número de matrícula (isso porque eu nem enviei minha matrícula há uns 4 meses, né?). Como estamos só em 2015 e a tecnologia não está lá essas coisas ainda (eu não tô vendo ninguém usando roupa prateada, ou seja, o futuro ainda não chegou), o sistema da universidade precisa de um dia para processar minhas informações e fornecer meu usuário e senha de acesso aos milhares de sistemas online da universidade – e eu achando que a USP e o JupiterWeb eram complicados.

Com muita agilidade, consegui fazer tudo isto numa tarde. Note que pagar 109 euros para o grêmio estudantil não me dá o direito de ter carteirinha de estudante… Para isso, eu preciso acessar um site e solicitá-lo pagando 15,10 euros. No mesmo dia fiz a solicitação e o cartão deve chegar na universidade em até duas semanas e até lá para poder garantir todos os descontos que tenho direito por ser pobre estudante, preciso mostrar o recibo de pagamento.

No dia seguinte tentei voltar a Seção de Alunos para pegar meu usuário e senha de acesso, mas o processo é lento e minha senha não foi chamada depois de 4 horas de tê-la retirado. Não, eu não fiquei 4 horas esperando ser chamada, eu fui almoçar, fazer a carteirinha da biblioteca, assistir uma aula e quando tudo isso terminou, a minha senha ainda estava longe de ser chamada e desisti. No dia seguinte, retirei minha senha às 9h30 da manhã, assisti uma aula, almocei e no meio da aula seguinte saí para às 13h10 pegar meu email da universidade e todo resto. E o pior é que eles resolveram usar meu sobrenome que menos gosto no email e usuário… ¬¬

Onde a mágica acontece
Onde a mágica acontece

E agora está tudo pronto? Não!

Fazer a carteirinha da universidade foi simples: senha (e uns 40 minutos de espera), cadastro e acesso criado. Mas o sistema da universidade é simplesmente complicado. Tão complicado que tivemos uma aula de 1h45 com a professora e os 4 tutores juntos para nos ajudar com tudo! O fato de eu ter sido aceita no mestrado e enviado minha matrícula não me matricula automaticamente no curso! Bem, quando entrei na USP, o sistema me matriculou em todas as matérias automaticamente no primeiro semestre, afinal, era  meu primeiro semestre! Mas aqui é um pouco diferente.

O sistema que usamos para ver as disciplinas, fazer matrícula e organizar nossa vida na universidade se chama Weboodi. Bem, eu precisei incluir cada matéria que vou cursar este período no sistema. Depois, eu precisei criar um “Plano de Estudos” que é basicamente montar meu currículo para os dois anos de mestrado, incluindo matérias obrigatórias, optativas e eletivas. É óbvio que posso fazer mudanças depois, mas preciso incluir 120 créditos de matérias obrigatórias entre major e minor desde já. Isso que eu mal me acostumei com a ideia que sou mestranda. Depois marcamos uma data com a coordenadora do curso para poder discutir o que faremos nestes dois anos de mestrado.

Não bastasse isso, ainda tem o sistema chamado Lukkari, que nada mais é que meu calendário com os horários de aula. Só que eu achei que os sistemas eram interligados e tudo que eu me matriculava iria diretamente pra lá – na verdade, parece que é mais ou menos assim, por algum motivo que apenas Murphy sabe explicar, eu precisei incluir manualmente todas as minhas disciplinas!

Para terminar, quando enviei minha documentação para a faculdade, mandei a tradução juramentada de todos os meus documentos comprovando que tenho graduação completa. Precisei trazer todos os originais em português para poder apresentá-los na universidade e eles finalmente confirmarem minha matrícula de vez. Ainda não me devolveram os documentos, mas como eu trouxe tudo, posso considerar esta etapa concluída também.

E depois disto tudo feito posso dizer que finalmente sou mestranda! 🙂

Faculty of Education <3
Faculty of Education ❤

Primeiros dias em Oulu

Meus primeiros 11 dias em Oulu podem ser resumidos em duas palavras: muita informação!

Não sinto que exagero ao dizer que a quantidade de informação e coisas aprendidas e compreendidas nestes 11 dias são comparáveis ao meu último ano de vida. De repente saí da minha rotina, onde nada de novo acontecia a não ser os movimentos novos nas aulas de kung fu e passei a ter que lidar com informação nova vindo a todo momento. To-do mo-men-to.

Apesar de já chegar aqui com o visto e não precisar  passar por aquela etapa chata de solicitá-lo como na Irlanda, isso não significa que não precise fazer nada ao chegar aqui, pois sim, preciso.

Chegar num lugar completamente desconhecido – eu não sou dessas que fica pesquisando no Google Maps – e precisar aprender onde você mora e como ir de lá até a universidade, ao mercado, ao centro da cidade e tendo como referência nomes de ruas que são gigantes e mal consigo pronunciar não é fácil. Some a isso o fato que eu moro no meio da floresta. Jamais imaginei que Oulu fosse no meio do mato! Aí meus pontos de referência se resumem a árvores!

Mobiliar o quarto também é algo que precisa ser aprendido. O processo todo de alugar um quarto e comprar o necessário para ficar habitável também é completamente diferente de Dublin! E entre uma questão burocrática e outra, preciso ir atrás de cobertor, cortina, tapete… in the Finnish style!

Ir ao mercado, então! Absolutamente tudo está finlandês. Duh, tô na Finlândia! Eu sei, mas eu imaginei que acharia tudo escrito em inglês por aqui, já que todo mundo me disse que eu viveria muito bem aqui sem saber falar finlandês. Só que ir ao mercado é uma aventura e muitas vezes é a foto na embalagem que me orienta sobre o que estou comprando- me sinto uma criança não alfabetizada.

E tem a parte de me tornar oficialmente uma mestranda! Foram muitas palestras para entender como tudo funciona, fila para pagar isso, fila para solicitar aquilo, fila para retirar outra coisa, reunião com tutores, apresentação de professores e aulas! Sim, minhas aulas já começaram.

Abrir conta no banco, pagar conta, manter a geladeira cheia, cozinhar, ir para aula, comprar itens de casa, conhecer gente nova todo dia, lavar roupa… Posso dizer que nestes 11 dias não tive tempo para me sentir sozinha neste quarto que é o dobro do tamanho do meu quarto no Brasil. Estou sempre ocupada e passando a maior parte do tempo fora de casa. E dormindo menos do que deveria e não dando ao meu cérebro a chance de reter toda essa informação.

Por conta de toda essa correria e problemas com a internet – gente, cortaram meu vínculo com o mundo e fiquei mais da metade destes 11 dias sem internet no quarto – estou demorando para postar sobre a vida aqui. Acredito que em pouco tempo tudo se ajeite, ganho uma rotina e tempo para postar no blog. Tenho muita coisa para contar! 🙂

Lago aqui perto de casa
Lago aqui perto de casa