Viajando pela Europa: Verão x Inverno

Teoricamente, brasileiros vão para Irlanda para aprender ou melhorar o inglês e, nas horas vagas, viajar. Pergunte a um intercambista brasileiro por qual motivo ele escolheu a Irlanda e 11 de cada 10 responderão isso.

Aqui no Brasil, ou São Paulo para ser mais específica, a gente só leva em consideração a estação do ano ou o tempo quando vai viajar se for para a praia, porque, afinal, em nossa mentalidade latino-americana só rola praia se o dia estiver ensolarado (digo isto porque na Irlanda praia não é necessariamente sinônimo de sol).

Só que em boa parte da Europa as estações são bem definidas. O verão costuma ser bem quente em alguns lugares (não na Irlanda, duuuh) e os dias bem longos (na terra dos leprechauns, amanhecia por volta das 4h e ainda se via raios de sol perto das 23h, por exemplo). E o inverno, além do frio, traz muita neve e poucas horas de sol. E visitar um mesmo país no verão ou no inverno podem ser duas experiências muito distintas.

Então, é melhor viajar no verão ou no inverno?

Bem, o melhor é viajar sempre que houver oportunidade e fundos para isso. Vivendo nesta vida frugal de intercambista, nem sempre as duas coisas calham de acontecer ao mesmo tempo, mas se acontecerem, VÁ!

Porém, no caso de poder escolher, antes de decidir se é melhor ir a tal país no inverno ou no verão, leve algumas coisas em consideração.

Tipo de turismo

Se seu plano é ver neve, esquiar ou realizar qualquer atividade relacionada ao frio, logo, a resposta óbvia é: vá no inverno. Em janeiro, fui para a Polônia e uma das partes da viagem era justamente esquiar. Porém, eu continuei passeando pelo país e ter visitado Cracóvia e Varsóvia no auge do inverno não foi a coisa mais legal. O frio de Cracóvia estava suportável até, mas quando cheguei na capital polonesa e tive que enfrentar – 9 graus com neve constante da hora que cheguei até a hora que peguei o avião de volta para Dublin, não achei um dos passeios mais legais da minha vida.

Esquiando. Aí o frio tá perdoado!
Esquiando. Aí o frio tá perdoado!

Aproveitando o dia

Como já citei, na Europa, os dias de verão são bem longos e, consequentemente, as atrações turísticas costumam ficar abertas por mais tempo. Além disso, mesmo depois que museus e afins fecham, você ainda pode andar pela cidade e visitar atrações à céu aberto, pois o sol não se põe antes das 21h ou 22h. Na minha viagem de janeiro, às 17h já não havia mais muita coisa para se fazer: atrações fechadas, o sol já tinha se despedido e o frio reinava! Invariavelmente, jantava e ia para o hostel. A exceção foi em Zakopane, na Polônia, quando numa das noites fui a um SPA de piscinas aquecidas (uma das melhores partes da viagem, com certeza). Já na viagem de maio, quase verão, eu consegui fazer meu dia render muito mais. Aliás, em Amsterdam, eu não vi a noite, pois a hora que voltava ao hostel, já quase às 22h, ainda estava claro. Resultado: fiz tudo que queria e mais um pouco!

Turistas e preços 

Esta é uma vantagem de se viajar no inverno, já que os turistas preferem viajar no verão. As atrações e tours não ficam tão cheios e costumam ser um pouco mais baratos. Eu entrei no Edinburgh Castle sem pegar fila! Os hostels também costumam baixar seus preços nesta época do ano, com exceção, claro, de cidades que recebem mais turistas no inverno (por conta de estações de esqui, por exemplo). As companhias aéreas fazem promoções para atrair mais passageiros e, no fim das contas, gasta-se muito menos viajando no frio. Eu paguei tão pouco nas passagens de avião de 4 trechos na viagem de janeiro que dá até vontade de rir! Já em maio, eu acabei gastando bem mais com passagens – mas valeu cada centavo.

Bagagem e fotos

Inverno, muito frio, muita roupa. Você vai acabar levando muito mais peso numa viagem de inverno, pois precisará de muito mais roupa para se aquecer. Além disso, o mais provável é que você tenha no máximo dois casacos pesados de frio e, portanto, vai sair com a mesma roupa em todas as 899 fotos que tirar. Algumas pessoas não ligam, mas outros acham ruim. Eu apareço com meu sobretudo preto em 90% das fotos tiradas no inverno. Sem mais.
Já no verão, as roupas são mais leves e dá para levar mais peças para usar durante a viagem, seja pelo problema “eu transpiro muito e preciso de muitas roupas” ou pela coisa do “não quero sair com a mesma roupa nas fotos”.

Seu humor

Viajar é sempre legal, a gente se desliga um pouco da nossa rotina e conhece outra realidade, que alegria! Mas seu humor é o mesmo no verão ou no inverno? Se você for como eu, com certeza gostará mais de viajar no verão! Acordar de manhã, abrir a janela e ver um belo céu azul sem nuvens e colocar uma roupa leve me deixa com o humor muito melhor do que acordar sentindo frio e ter que colocar várias camadas de roupas. Lembro-me bem na viagem que fiz a Liverpool, depois de meses já passando frio em Dublin, cheguei lá e o céu estava cinza, ventava muito e garoava. Passamos um bom tempo dentro de museus, mas quando saíamos para a rua, eu fechava a cara na hora (peço desculpas aqui, tardiamente, ao meus companheiros de viagem – desculpem-me se fui uma má companhia no frio de Liverpool).

Esta sou eu no frio de Varsóvia. Eu pareço feliz?
Esta sou eu no frio de Varsóvia. Eu pareço feliz?

Acredito que viajar é sempre bom e é algo que todos deveriam fazer sempre que possível. Eu não deixaria de viajar no inverno por causa do frio, apesar de não ser fã de baixas temperaturas, porém, podendo escolher, há mais vantagens em se viajar no verão do que no inverno, apesar de o custo total da viagem ser mais alto. Quer saber? VIAJA, gente, VIAJA! 🙂

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Varsóvia, Polônia

Decidimos ir para Varsóvia de trem. A viagem dura pouco mais de 4h, mas quando você acorda muito cedo, já está no seu 9º dia de eurotrip e morrendo de cansaço, nem percebe, pois dorme do início ao fim! 😉

O hostel ficava relativamente próximo  a estação, mas até chegar lá, fazer check-in etc, já era mais de meio-dia. Fomos almoçar na Pizza Hut (rodízio de pizza pelo equivalente a 6 euros ou 16 reais) e depois a única coisa que deu para fazer antes de escurecer foi visitar o quartel-general da Gestapo, que hoje é um museu. Apesar de ser bem pequeno, dá para passar mais de 1h lá dentro, pois há várias telas “interativas” contando desde o início da guerra até como Varsóvia foi invadida e como a Gestapo agia.

Há fotos de várias pessoas que foram presas, interrogadas e assassinadas pela Grestapo. Há também reconstruções das celas onde os suspeitos ficavam antes de serem interrogados.

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Cela onde os "suspeitos" ficavam
Cela onde os “suspeitos” ficavam
Instrumentos usados na tortura
Instrumentos usados na tortura
!!!
!!!

Quando saímos do museu já havia escurecido e apesar de ainda ser cedo não havia mais nada para se fazer. Novamente fomos jantar e passeamos por um shopping. Confesso que nesta noite até pensamos em ir a algum pub, mas estava tão frio (-9 graus com sensação térmica de -18) que preferimos ficar no hostel quentinho.

No dia seguinte saímos para fazer o free walking tour da mesma empresa de Cracóvia. Apesar de estar -10 graus e nevando, tivemos a coragem de andar 2,5h pela cidade! Ou isso ou desperdiçaríamos nosso último dia de viagem sem fazer nada e não passearíamos pela capital da Polônia.

Passando frio em Varsóvia: sim ou claro?
Passando frio em Varsóvia: sim ou claro?

E olha que o ponto de encontro ficava um pouco longe do hostel, uns 30 minutos a pé, e mesmo assim, lá fomos nós!

No meio do caminho, achamos estes patinhos na neve!
No meio do caminho, achamos estes patinhos na neve!

Havia pouca gente esperando para fazer o tour, talvez por causa do tremendo frio (talvez, talvez). O guia era excelente, fizemos várias perguntas e ele respondeu a todas muito bem. Começamos pelo centro velho da cidade e o castelo real, uma bela construção. Vale lembrar que Varsóvia foi quase que completamente destruída durante a segunda guerra mundial e o que vemos da cidade hoje são reconstruções feitas a partir do que originalmente existia no lugar.

Castelo real
Castelo real

Na praça do centro tem uma escultura de uma sereia, que é o símbolo da cidade. O guia nos contou a lenda relacionada a ela e ao surgimento do nome Varsóvia (Warszawa em polonês), que seria a junção dos nomes Warsz e Sawa, a sereia.

Sawa
Sawa

Seguimos então para o local onde ficavam os muros do gueto judeu. Ficamos muito tempo lá ouvindo as explicações do guia. Apesar de ser tudo extremamente interessante e até termos feito perguntas, confesso que não via a hora de acabar de tanto frio que eu sentia (não parou de nevar um minuto!)

Mapa do antigo gueto
Mapa do antigo gueto

Visitamos alguns lugares relacionados a guerra, outros relacionados ao pianista/ compositor de música clássica Chopin (há vários bancos na cidade que tocam composições de Chopin. Sim, tocam… você aperta um botão e ouve um minuto de música clássica) e até lugares relacionados aos Rolling Stones.

Banco musical de Varsóvia
Banco musical de Varsóvia
Túmulo do soldado desconhecido
Túmulo do soldado desconhecido

Para terminar nossa viagem, decidimos ir a uma churrascaria brasileira que achamos perto do hostel. Pode parecer estranho, mas só quem já morou fora para saber a vontade que dá de comer um prato bem brasileiro de vez em quando. Aí que chegamos lá às 14h de um sábado e estava fechando. Ficamos com aquela cara de tontos sem entender como um restaurante fecha à essa hora e voltamos para Dublin com nossas lombrigas.

Restaurante que fecha para almoço
Restaurante que fecha para almoço

Considerações finais

Viajar 10 dias cansa, mas vale a pena! Gostei muito da Polônia, especialmente de Cracóvia. Varsóvia não é uma cidade muito turística, portando, se for escolher uma das duas, fique com a primeira. Na Polônia é tudo muito barato e foi o único país para o qual viajei e não recorri a McDonalds até hoje!

E assim, voltei à vida normal em Dublin…