Primeiro ano de mestrado – Parte 3

E finalmente a conclusão da “trilogia” de posts sobre meu primeiro ano de mestrado.

Depois de descrever e refletir sobre o curso e este primeiro ano, qual é minha conclusão? Vou largar tudo e vender minha arte na praia? Vou continuar e ver no que vai dar? Está valendo a pena?

Eu tenho um amigo que faz mestrado em Letras Orientais na USP e já fiz diversas perguntas sobre o curso e não teve como não chegar à conclusão que na USP o mestrado é muito melhor. É claro que a estrutura da Universidade de Oulu não pode nem ser comparada à estrutura da FFLCH ou mesmo da Faculdade de Educação da USP, mas o curso em si é realmente mais “puxado”, organizado e consequentemente, melhor (dando uma explicação bem simplista).

Eu só fui entregar meu projeto de mestrado no início do segundo semestre, em janeiro, e até o momento eu não recebi nenhuma avaliação sobre o projeto e me pergunto: por que raios me deram um prazo para entregá-lo se ninguém iria ler e me dar um retorno dizendo o que ficou bom e o que deveria ser melhorado? Somente nas últimas semanas de aula do segundo semestre que “ganhei” um orientador para minha tese, uma pessoa que, aliás, está sobrecarregada, pois é responsável por toda a Faculdade de Educação e, na falta de outros orientadores, está com vários mestrandos sob sua responsabilidade. Conclusão: jamais tive qualquer reunião com ela para discutir meu projeto de mestrado. Para efeitos práticos de comparação, na USP (ou na FFLCH, pelo menos) todo mestrando já entra com seu projeto pronto e aprovado e com um orientador. Além disso, este meu amigo precisa cursar poucos créditos em disciplinas, que são todas relacionadas com o tema de sua tese e indicadas por seu orientador. O meu curso de mestrado tem disciplinas obrigatórias que nada se relacionam com o tema da minha tese e eu tenho apenas 10 créditos para fazer de optativas – e não tem nenhuma optativa oferecida em inglês que tenha qualquer relação com o tema que escolhi.

Conclusão

Eu não recomendaria este mestrado para quem já tem formação na área de educação, especialmente para quem é formado em pedagogia ou tenha qualquer tipo de educação formal na área, seja só a licenciatura, especialmente se for uma licenciatura na área de humanas. Todos os temas abordados em aulas costumam ser bem gerais e talvez não sejam tão “novidade” para quem já é da área. Eu recomendo para quem trabalha na área de educação – ou tem planos de – e precisa de uma visão mais global e ampla, seja por não ter a formação na área ou para mudar de área. Também recomendo para quem gostaria de trabalhar em projetos sociais ou em ONGs que têm como base a educação de alguma forma e garanto que para este fim, o curso pode sim ser muito bom.

Se eu soubesse antes de embarcar para a Finlândia que o curso seria assim, eu teria ido? Se eu estivesse indo somente por causa do mestrado em si, não, acho que eu preferiria ter ficado e feito o mestrado na USP (e continuar minha história de amor e ódio com esta universidade). Mas eu não fui somente por isso, então respondo que SIM, eu teria ido mesmo assim. Explico. Quando resolvi tentar estudar fora, a decisão foi tomada dando 50% de importância a parte do “estudar” e  outros 50% para a parte do “fora”. Eu queria sair do Brasil novamente, mas queria sair para fazer algo que realmente valesse a pena nessa altura da vida e a única coisa que pra mim valeria seria o mestrado. Não estou nem um pouco arrependida da decisão de ter ido morar, mesmo que temporariamente, de novo no exterior e só por isso eu diria que o mestrado está valendo a pena. Eu realmente não gosto muito do mestrado e 10 em 10 pessoas que me perguntam como “estão os estudos”, antes de ouvirem minhas reflexões, veem uma cara de quem chupou limão primeiro. Por outro lado, olhando o lado prático da vida, quando tudo terminar, eu vou ter um diploma de mestrado em educação emitido no país mais famoso do mundo na área e isso não vai abrir portas, vai abrir portões na minha vida profissional. Se é bom ou não, eles checam depois, mais isto já é um “chamariz” no currículo e não tem quem negue. Eu fiz USP e eu sei muito bem o peso que é ter estas 3 letrinhas num currículo numa seleção – se a USP é boa mesmo ou se eu sou uma boa profissional mesmo é tudo questionado depois. Infelizmente, sabemos que isso conta muito na vida profissional hoje.

Eu não vou largar o mestrado, porque eu acho que já fui muito longe e já investi muito para simplesmente desistir. E pensamento friamente, eu tenho só mais 3 disciplinas para cursar e uma tese para escrever (que não é “só”, gente, eu vou virar uma ermitã assim que colocar em prática o projeto e precisar escrever a tese).

Sei que algumas pessoas podem terminar de ler este relato e ficarem chateadas ou até desmotivadas, mas eu não poderia simplesmente mentir e dizer que tudo é maravilhoso e estou amando. Não seria sincero e eu não tenho motivos para mentir. Gostaria de salientar que este relato é MUITO PESSOAL e outros mestrandos da minha turma poderiam discordar completamente de mim e tecer vários elogios ao curso e à Faculdade. Mas este é meu blog e estas são minhas impressões. 🙂

Enfim, mestranda!

Se você achava que por ter viajado a Brasília para tirar o visto depois de toda a burocracia para marcar a entrevista seria suficiente para eu chegar aqui e ir estudar, bem, saiba que isso era só a ponta do iceberg.

Meu visto, ou resident permit como eles gostam de chamar, é só meu free pass para entrar no país. Para me tornar oficialmente mestranda há toda uma burocracia e jogo de cintura para lidar com tudo.

O primeiro passo foi comparecer a Orientation Fair na Universidade para poder agilizar o processo. Apesar do ensino ser gratuito aqui na Finlândia por enquanto, eu sou obrigada a pagar uma taxa para o grêmio estudantil – coisa assim de 109 euros, troco de padaria. SQN. Este valor cobre meu primeiro ano e deverá ser pago novamente quando eu renovar o visto. Com o recibo em mãos, eu posso ir ao que eu traduziria como Seção de Alunos e solicitar meu cadastro para obter um número de matrícula (isso porque eu nem enviei minha matrícula há uns 4 meses, né?). Como estamos só em 2015 e a tecnologia não está lá essas coisas ainda (eu não tô vendo ninguém usando roupa prateada, ou seja, o futuro ainda não chegou), o sistema da universidade precisa de um dia para processar minhas informações e fornecer meu usuário e senha de acesso aos milhares de sistemas online da universidade – e eu achando que a USP e o JupiterWeb eram complicados.

Com muita agilidade, consegui fazer tudo isto numa tarde. Note que pagar 109 euros para o grêmio estudantil não me dá o direito de ter carteirinha de estudante… Para isso, eu preciso acessar um site e solicitá-lo pagando 15,10 euros. No mesmo dia fiz a solicitação e o cartão deve chegar na universidade em até duas semanas e até lá para poder garantir todos os descontos que tenho direito por ser pobre estudante, preciso mostrar o recibo de pagamento.

No dia seguinte tentei voltar a Seção de Alunos para pegar meu usuário e senha de acesso, mas o processo é lento e minha senha não foi chamada depois de 4 horas de tê-la retirado. Não, eu não fiquei 4 horas esperando ser chamada, eu fui almoçar, fazer a carteirinha da biblioteca, assistir uma aula e quando tudo isso terminou, a minha senha ainda estava longe de ser chamada e desisti. No dia seguinte, retirei minha senha às 9h30 da manhã, assisti uma aula, almocei e no meio da aula seguinte saí para às 13h10 pegar meu email da universidade e todo resto. E o pior é que eles resolveram usar meu sobrenome que menos gosto no email e usuário… ¬¬

Onde a mágica acontece
Onde a mágica acontece

E agora está tudo pronto? Não!

Fazer a carteirinha da universidade foi simples: senha (e uns 40 minutos de espera), cadastro e acesso criado. Mas o sistema da universidade é simplesmente complicado. Tão complicado que tivemos uma aula de 1h45 com a professora e os 4 tutores juntos para nos ajudar com tudo! O fato de eu ter sido aceita no mestrado e enviado minha matrícula não me matricula automaticamente no curso! Bem, quando entrei na USP, o sistema me matriculou em todas as matérias automaticamente no primeiro semestre, afinal, era  meu primeiro semestre! Mas aqui é um pouco diferente.

O sistema que usamos para ver as disciplinas, fazer matrícula e organizar nossa vida na universidade se chama Weboodi. Bem, eu precisei incluir cada matéria que vou cursar este período no sistema. Depois, eu precisei criar um “Plano de Estudos” que é basicamente montar meu currículo para os dois anos de mestrado, incluindo matérias obrigatórias, optativas e eletivas. É óbvio que posso fazer mudanças depois, mas preciso incluir 120 créditos de matérias obrigatórias entre major e minor desde já. Isso que eu mal me acostumei com a ideia que sou mestranda. Depois marcamos uma data com a coordenadora do curso para poder discutir o que faremos nestes dois anos de mestrado.

Não bastasse isso, ainda tem o sistema chamado Lukkari, que nada mais é que meu calendário com os horários de aula. Só que eu achei que os sistemas eram interligados e tudo que eu me matriculava iria diretamente pra lá – na verdade, parece que é mais ou menos assim, por algum motivo que apenas Murphy sabe explicar, eu precisei incluir manualmente todas as minhas disciplinas!

Para terminar, quando enviei minha documentação para a faculdade, mandei a tradução juramentada de todos os meus documentos comprovando que tenho graduação completa. Precisei trazer todos os originais em português para poder apresentá-los na universidade e eles finalmente confirmarem minha matrícula de vez. Ainda não me devolveram os documentos, mas como eu trouxe tudo, posso considerar esta etapa concluída também.

E depois disto tudo feito posso dizer que finalmente sou mestranda! 🙂

Faculty of Education <3
Faculty of Education ❤

A entrevista

No dia e horário marcados (que eu me certifiquei se estava correto, afinal marcaram no horário de Oulu, onde é 6h mais tarde que aqui), lá estava eu pronta para ir trabalhar, porém tinha uma entrevista por Skype a ser feita antes. Avisei no trabalho que talvez chegaria um pouco atrasada naquele dia e me preparei psicologicamente.

Às 8h30 em ponto eu liguei para o usuário de Skype da universidade morrendo de medo já. Uma das professoras do curso atendeu a ligação e apresentou sua colega de entrevista, uma doutoranda japonesa que havia cursado o mesmo mestrado e dado continuidade aos estudos em Oulu.

Eu tentando agir naturalmente ao começar a entrevista no Skype
Eu tentando agir naturalmente ao começar a entrevista no Skype

Já de cara eu senti um clima de descontração e a primeira pergunta foi um quebra-gelo mesmo: queriam saber como eu tinha conhecido o programa e por que eu havia me candidatado. Eu expliquei que era professora, que sempre gostei da profissão e via o mestrado como uma ótima oportunidade de continuar minha formação acadêmica/morar fora novamente. Já aproveitei o embalo para mencionar que havia morado no exterior – não sei porque, mas sempre acho que isso conta pontos na vida – e elas me perguntaram como havia sido a experiência, especialmente sobre a vida nos EUA, já que, segundo elas, eu era muito novinha quando fui pra lá (tinha 20 anos). Expliquei que foi uma experiência maravilhosa e sei lá eu porque, destaquei a questão do frio como um desafio vencido – acho que para mostrar que mesmo sendo de um país tropical eu soube lidar bem com realidades diferentes da minha – e, obviamente, elas já me jogaram na cara a fria (perdão, não resisti) realidade que vai ser Oulu no inverno e me perguntaram como eu ia lidar com isso. Eu devolvi no mesmo nível: morei na Irlanda, um lugar tão frio que até urso polar usaria gorro. E elas devolveram com um “eh, não é só um país frio, mas muito úmido, o que faz a sensação térmica ser muito mais baixa”. Adoro quando as pessoas me compreendem. Brigada eu.

Terminando o quebra-gelo, já partiram para minha intenção de pesquisa e pediram para eu explicar melhor. Desenvolvi minhas ideias tentando deixar bem claro o porquê eu escolhi o tema e como eu achava que ele era relevante, já que eu via esta questão dando aula e queria discutir a diferença entre o Brasil e a Finlândia neste aspecto (calma, eu vou explicar meu projeto futuramente).

Depois me perguntaram qual era minha intenção ao terminar o mestrado e voltar ao Brasil. Fuén, sei lá, não refleti sobre isso, não sei dizer exatamente o que quero fazer quando voltar, mas acho que o caminho mais lógico seria começar carreira em universidade, então disse que iria voltar e dar aula em faculdades particulares. Pronto, aí dei pano pra manga, pois a isso se seguiu a seguinte observação/pergunta delas:

“Interessante. Você veio de uma universidade pública, mas pretende dar aula numa universidade particular e, inclusive, você trabalha no setor privado! Como é isso? Por que você não tem a intenção de dar aula em faculdades públicas?” Ou seja, por que eu tive toda uma educação “gratuita” (paga com os meus e os seus impostos, o ICMS para ser mais exata) e não queria retribuir isso na mesma universidade pública. Aí lá vai eu tentar explicar a loucura que é o sistema de ensino brasileiro, como funciona o processo para entrar numa faculdade pública como professor e como a USP está sucateada e malemal contratando gente, por exemplo. Não é fácil assim.

Aí caímos na questão de alunos de escolas particulares que ocupam a maioria das vagas das universidades públicas e os das públicas que se matam para pagar uma particular e toda a incoerência do processo. No fim, a professora finlandesa disse que apesar de já ter noção que o ensino no Brasil funciona assim – já havia recebido brasileiros no curso antes – ela não consegue compreender isso tendo sido educada na sociedade que foi. E eu disse que nem tendo sido educada nesta sociedade eu entendia também e que, infelizmente, eu era uma exceção, já que fui uma aluna da rede pública por toda vida e entrei na USP. Até falei que a gente tem programas e tal para facilitar o acesso ao ensino superior, como o ProUni (que agora não vem ao cado minha opinião) e foi isso.

Para finalizar, pediram um pouco mais de detalhes da minha pesquisa de mestrado. Perguntaram se eu tinha alguma dúvida. Não. Destacaram então que o curso era em período integral e que embora meu visto fosse permitir que eu trabalhasse, eu não deveria contar com isso, mas estar preparada para me bancar, já que a universidade também não me daria nenhum tipo de assistência – que o curso já era free.

A professora finlandesa, antes de se despedir, disse que havia gostado muito da minha intenção de pesquisa e que havia muitas oportunidades dentro deste campo no mestrado e foi isso. Me desejaram boa sorte e desligaram, usando 28 dos 30 minutos previstos para a entrevista, que foi mais mesmo uma conversa.

Eu estava muito nervosa, muitas palavras sumiram da minha cabeça e em alguns momentos eu até fiquei com receio de estar enchendo linguiça e me repetindo. Eu senti um clima muito informal mesmo e um foco diferente ao que é dado no Brasil: aqui sinto que sou um papel com minha formação acadêmica, títulos e projetos – eles não estão interessados no meu perfil, mas na minha produção acadêmica. Nesta entrevista eu senti que eles tinham interesse no indíviduo Beatriz: quem é, o que faz, onde vive? Por que escolheu ser professora e fazer mestrado na terra do Papai Noel? Hoje, no blog Um Fabuloso Destino. Piadas à parte, senti um interesse nas minhas ideias, visão de mundo e na minha contribuição para o curso – afinal, partem do princípio que os mestrandos não vão só aprender mas também ensinar, já que ensino é isso mesmo: uma troca!

Fiquei um tanto eufórica o resto do dia e fiquei ansiosa pelo resultado, que saiu duas semanas depois.

A inscrição

Curso escolhido e muita pesquisa depois, chegou a hora de fazer a inscrição. Lá para meados de outubro, a universidade disponibilizou o edital para 2015. Basicamente, era idêntico ao de 2014, mas agora eu tinha datas e informações mais precisas.

O que a universidade queria para aceitar minha inscrição se resumia em:
– Comprovar que eu tinha diploma de Bacharel, ou seja, meu diploma e histórico escolar;
– Duas cartas de recomendação de ex-professores ou algum superior do trabalho;
– Uma carta de apresentação rasgando seda loucamente e dizendo como sou demais;
– Uma intenção de pesquisa de mestrado;
– Uma cópia do meu passaporte;
– Um CV acadêmico.

Parece tudo muito simples, né? E é até a página 2. Vamos começar a novela.
A cópia do passaporte foi muito fácil (duh) e o CV acadêmico também. Apesar de eu não ter absolutamente nada além da minha graduação (não fiz iniciação científica, não participei de simpósios nem nada do tipo, não desenvolvi nenhum estágio relevante ao curso, enfim, eu era a típica universitária que só frequentava as aulas e não fazia nada além disso porque precisava trabalhar), eu pude incluir meu trabalho que era relevante para o curso, ou seja, dar aulas. Então coloquei todas as escolas que eu já havia trabalhado – que não são poucas -, enfeitei o pavão desmembrando meus cursos de Letras e Licenciatura em dois (inclusive incluindo como atividade extra as 400h fucking horas de estágio obrigatório da Licenciatura) e fiz uma introdução muito bonita falando como eu queria novos desafios.

Aí eu precisei da USP. E o lema da USP é “pra que simplificar se a gente pode complicar?”. Sério, tudo naquela universidade é complicado, demorado e burocrático. Fiz um requerimento de documentos – histórico escolar e uma declaração que já era provável licenciada em Letras – e aguardei. Ok. Juntei tudo isso e fiz uma tradução juramentada que me custou um rim foi cara, porém, é o único tipo aceito nessas situações. Aí a universidade pedia além da tradução juramentada original, uma cópia dos documentos na sua língua de origem, cópia que deve ser “certificada” pela universidade. Lá vai a Bia levar as cópias para a USP fazer isso.

“Bom dia. Você poderia carimbar todas as páginas destas cópias? Vou enviar junto com minha inscrição de mestrado.”
“Carimbar? Pra quê?”
“Porque a universidade solicita que as cópias sejam certificadas, querem uma prova que conferem com as originais.”
“Nossa, mas eu nunca vi isso!”
“Entendo. Mas realmente preciso disso. Você poderia carimbar?”
“Ow Fulano, já viu isso? Carimbar cópia de documento?”
“Pois é, mas é uma exigência da universidade, se eu não enviar carimbado, pode ser que desconsiderem minha inscrição…”

Eu já estava quase perguntando pra senhorinha se ia cair o braço dela se ela só checasse as cópias com as originais e carimbasse tudo, porque olha, que implicância! No fim, ela carimbou e deu um visto em todas as páginas, mas por um momento achei que ela ia ficar a manhã toda discutindo comigo por isso.

Aí tem a parte que eu precisava de duas cartas de referência de professores. Eu nunca fui uma aula destaque – sentava lá no meu lugar morrendo de sono, assistia a aula, fazia meus trabalhos e pronto – ou seja, não era aquele tipo de aluna que os professores conhecem pelo nome e trocam ideias nem que faz comentários em aula e záz. Esta era eu na universidade e já fazia 3 anos que eu havia me formado, como ir atrás de professores nestas circunstâncias? Procurei a linda professora D., porque já que eu tinha ela como amiga no Facebook, acreditei que ela poderia, pelo menos, se lembrar de mim. Ela se prontificou a escrever a carta, apenas pediu alguns detalhes do curso que eu queria e passei por conta própria os detalhes da minha graduação (média ponderada, habilitação etc). Acho que em menos de 10 dias ela escreveu a carta e deixou no departamento para eu retirar. Uma fofa!

Agora precisava de um segundo professor. Eu estava cursando minha última matéria da Licenciatura, só que era uma disciplina ministrada no curso de Letras – gente, não tentem entender a USP – e era com um professor que já tinha me dado aula antes. Pedi e o professor D. topou também, mas tive que correr um pouco atrás dele para que tudo saísse nos conformes.

Estas cartas deveriam ser escritas pelos professores num formulário, assinadas, colocadas num envelope e lacradas com a assinatura deles no lacre. Sim, tudo muito confidencial, já que a ideia é que eu não soubesse o que eles tinham escrito.

Agora faltava minha carta de apresentação e a intenção de pesquisa.
Para escrever a carta eu pesquisei muito no Google modelos e dicas do conteúdo, afinal, eu jamais havia escrito uma antes. Basicamente, comecei exaltando a universidade e explicando porque ela despertou meu interesse, depois passei a falar de mim destacando que era professora de inglês, que havia me formado na melhor e mais complicada universidade da América Latina e como acreditava que a educação era a solução e a base de tudo (sério, gente, eu acredito nisso mesmo). Falei que era uma pessoa muito flexível, que já havia morado no exterior e como essas experiências foram enriquecedoras e finalizei explicando que estudar lá seria uma ótima oportunidade para mim e para meu país. Rasguei seda sim – a ideia era me vender mesmo!

Por fim, a parte mais difícil: escrever a intenção de pesquisa! Diferente da USP e outras universidades que querem seu projeto de mestrado pronto quando você se inscreve, a Universidade de Oulu só queria saber sobre o que eu pretendia pesquisar. Eu já tinha uma ideia do que fazer, mas penei muito para conseguir desenvolvê-la e ainda fiquei insegura com o resultado. No fim, deu tudo certo e mandei algo aceitável para eles – no momento apropriado, ainda vou explicar sobre o que será minha dissertação.

Para completar todo esse processo, eu precisei me cadastrar neste site aqui, já que todas as inscrições para qualquer universidade finlandesa devem ser enviadas através dele. Ganhei um número de inscrição e precisei completar todos os meu dados pessoais no início do cadastro. Preenchi tudo, copiei e colei tanto a carta de apresentação como a intenção de pesquisa, imprimi, chequei a lista de documentos umas 50 vezes para ter certeza que tinha colocado tudo que eles exigiam dentro do envelope.

Fui ao correio um dia antes de ir para minha Eurotrip – narrada aqui no blog por quase 6 meses – e antes de deixar o envelope lá, chequei outras 50 vezes se havia escrito o endereço certo (estava em finlandês, gente, era muita letra junta). Paguei a taxa com aviso de recebimento e esqueci isso. Meu objetivo era tentar e saber que tinha feito meu melhor para passar; se desse certo bem, se não desse, ok… ia fazer o mestrado na USP mesmo.

O endereço: um monte de letras juntas
O endereço: um monte de letras juntas