Conversando com o diretor – Parte 1

Como parte do meu estágio na escola primária finlandesa, tive a oportunidade de conversar com o diretor. Conversamos por aproximadamente 2 horas e ele respondeu todas as minhas perguntas e com toda a paciência e boa vontade do mundo me ajudou a entender um pouco mais como funciona o sistema de educação do país, agora de uma perspectiva de quem precisa lidar não só com a educação em sala de aula, mas com orçamento e outras burocracias.

O diretor trabalha na área de educação há quase 25 anos e ele também dá aulas. Segundo ele, ser diretor não é uma função exclusiva e a única diferença entre ele e os os outros professores da escola é que ele fez cursos para poder exercer a função. A conversa foi bem longa e não teria como detalhar tudo que conversamos em um post, então vou destacar e resumir os assuntos mais relevantes a seguir.

Currículo

Assim como muitos países, a Finlândia tem um currículo nacional que deve ser seguido no país todo. Porém, de acordo com o diretor, ele é uma referência do que deve ser feito, mas não deve ser seguido à risca, pois há também um currículo local que leva em conta as peculiaridades e necessidades de cada região e, por fim, um currículo da própria escola. Trocando em miúdos, isto significa que sim, eles seguem o currículo nacional, mas têm a liberdade de adicionar ou adaptar o que for necessário para que este currículo fique o mais “customizado” possível para atender às necessidades dos alunos daquela região. Portanto, escolas de regiões diferentes não vão, necessariamente, ensinar exatamente as mesmas coisas. A filosofia por trás disso é de que igualdade não é oferecer a mesma coisa a todos, mas oferecer a cada um o que ele precisa. E eu, particularmente, concordo muito com esta visão de mundo.

Profissão: professor

Um diferencial na educação finlandesa que eu nunca vejo ser citado em nenhuma reportagem ou artigo (publicado no Brasil) sobre o tema é o prestígio da profissão: ser professor na Finlândia é ter o respeito da sociedade pela importância da sua função na comunidade. O professor tem prestígio, respeito dos alunos, dos pais e da população. Apesar de o salário dos professores não estar entre os mais altos, ainda é uma profissão muito procurada e concorrida. Na Faculdade de Educação da Universidade de Oulu, por exemplo, apenas 10% dos inscritos são selecionados e isto não é apenas um número, isto traz algumas implicações. Por ser uma carreira muito procurada, a concorrência é grande e, assim, os 10% mais preparados são selecionados – lá no comecinho, então, “os melhores” já começam na carreira. Junte-se a isso o fato de que todo o curso de graduação é composto por 3 anos de bacharelado seguidos por 2 anos de mestrado. No começo, eu não entendia direito porque era um diferencial tão grande ter mestrado, já que no fim das contas eles teriam estudado 5 anos, o que é menos tempo do que eu estudei para ser bacharel e licenciada em Letras, mas com o tempo a relação ficou clara: no mestrado aprendemos a fazer pesquisa, ou seja, a nos virar para estudar e aprender como achar a informação confiável e relevante. Um professor que sabe se preparar, sabe como pesquisar, como encontrar o que precisa, certamente saberá como planejar sua aulas. E isto tem um impacto enorme no trabalho de professor.

O professor fora da sala de aula

Além de falarmos do que é ser um professor na Finlândia, também conversamos sobre outros aspectos da profissão. Como já ficou claro no post, o professor é muito respeitado na comunidade e a consequência é que há uma relação de confiança muito grande. O diretor confia que seus professores sabem o que estão fazendo e, consequentemente, estão fazendo seu melhor. Logo, não há qualquer tipo de fiscalização, por assim dizer, do trabalho do professor. O diretor não faz avaliações, observações de aula ou checa planejamento – cada professor tem a liberdade de planejar suas aulas como achar melhor e ninguém questiona sua decisões. Os pais, por confiarem no trabalho, agem da mesma forma e cooperam com o professor ao invés de questioná-lo. E, como já citado, o professor sai da faculdade mestre e com uma boa formação na área, isto não significa que cada um faz o que quer, mas que fazem o que sabem que será o melhor para seus alunos.

Por outro lado, como os professores não trabalham no verão – junho e julho – e nem nos breaks – inverno, outono e Natal/Ano Novo -, para não ficarem sem salário, é calculado o valor mensal do pagamento baseado no número de aulas. Este total é multiplicado pelos 9 meses que eles efetivamente trabalham e, então, dividido por 12 meses para que recebam salários todos os meses. Pois é, nem tudo é tão maravilhoso, nem na Finlândia!

No próximo post continuo contando sobre a conversa com o diretor.

 

Publicidade