Eu tô com o Raul e não abro quando ele diz que prefere ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. As coisas mudam, os sentimentos mudam, as estações mudam, as pessoas mudam… afinal, somos o resultado de tudo que já vivemos e as experiências acontecem conforme a vida vai sendo vivida. Não dá para manter as mesmas opiniões até o caixão e isso não significa não ter opinião nenhuma, ser “cabeça fraca” – nos reinventamos e mudamos de ideia, de cor de cabelo, de país. Mas e quando essa metamorfose parece acontecer na velocidade 5 e suas opiniões, ideias – objetivos- mudam como se muda de roupa?
E eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. O passado não muda, o que muda é nossa percepção dele – é isso que propõe a psicanálise para ajudar quem não consegue lidar com seus fantasmas. E tem aquela história de só conseguir entender uma situação quando se sai dela – dentro dela, somos cegos. Num momento isto ou aquilo parecia uma ótima ideia, agora não faz sentido. Por que fiz isso? Por que não fiz aquilo? Por que voltei?
Mas sabe, é chato chegar a um objetivo num instante. E não é só chato, é inquietante. Objetivo é o que move a vida – o sonho só acaba quando o sonhador morre (quem nunca ouviu essa?) – e quando um objetivo vai para a gaveta dos “accomplishments”, a gente fica parecendo barata tonta procurando o próximo, algo que motive a acordar cedo todo dia para ir trabalhar e chegar na sexta à noite cansada de uma longa semana sabendo que tudo isso tem seu porquê, sua razão de ser, que é apenas um meio para um fim e não o fim em si mesmo.
Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho algumas dilmas por mês. Acordar cedo, trabalhar, voltar cansada, jantar, tomar banho, checar rapidamente a internet, dormir. Aguardar o final de semana para se distrair um pouco ou descansar um monte. E… é isso? Um mundo inteiro para ser explorado, descoberto, admirado, desbravado e você se limita a circular nos mesmos kilômetros quadrados todo dia? Até quando?
Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis, mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado, porque foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto “E daí? Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado”. Nem eu, Raul.
Eu prefiro ser aquela metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou. E, talvez, eu precise saber.
Toca Raul!
[hoje eu tô ‘filósofa’]