Amsterdã, Holanda IV

Um dos passeios que eu mais esperava fazer em Amsterdã era a visita a Casa Anne Frank, o prédio onde funcionava a empresa de Otto Frank, pai de Anne, e posteriormente, se transformou no esconderijo de 8 pessoas por quase 2 anos durante a Segunda Guerra.

Os dois últimos andares faziam parte do Anexo Secreto
Os dois últimos andares faziam parte do Anexo Secreto

Resumindo MUITO a história, a família Frank se mudou da Alemanha para a Holanda na década de 30 temendo o partido nazista. O pai, Otto, abriu duas empresas (Opekta e Pectacon) que funcionavam neste prédio e estava tudo indo muito bem até o exército alemão invadir a Holanda. Em julho de 1942, a família Frank (Otto, Edith, Margot e Anne) e a família van Pels (Hermann, Auguste e Peter), além do dentista Fritz Pfeffer, se refugiaram nos dois últimos andares do prédio e com a ajuda dos funcionários, viveram lá por quase 2 anos até serem delatados. Todos foram deportados e mandados para os campos de concentração. Apenas Otto sobreviveu ao Holocausto.

Anne Frank manteve um diário sobre a vida no Anexo Secreto, como ela chamava, e após ouvir no rádio que havia interesse de publicar diários sobre o período após a guerra, ela expressou sua vontade de ter seu próprio diário publicado e passou a reescrever sua anotações e dar nomes fictícios aos moradores do Anexo. Uma das secretárias da empresa achou o diário de Anne e o guardou pensando em devolvê-lo quando ela voltasse. O  pai, Otto, decidiu que deveria fazer a vontade da filha e o publicou.

Placa em frente à casa
Placa em frente à casa

Claro, há várias teorias de que toda essa história foi inventada, que os textos de Anne eram muito maduros e profundos para sua idade, que como o diário foi tão facilmente deixado para trás pelos oficiais alemães e achado pela secretária blá blá blá. Isso, para mim, não tira o valor do livro e meu fascínio por ele.

A fila do museu estava ainda maior do que no dia anterior e acabei ficando 1h20 esperando. Eu poderia ter comprado o ticket no site do museu e ter entrado sem pegar fila, mas eu só descobri isso um dia antes de viajar e enfim, não tenho impressora em casa.

A fila anda virava a esquina ali na frente...
A fila ainda virava a esquina ali na frente…

Ainda na fila você recebe uma brochura com um resuminho de tudo, já que a visita não é guiada e eles supõem que nem todos leram ou se lembram bem do livro. O ticket custa 9 euros e para minha grande tristeza, não é permitido fotografar! Eu até entendo o motivo, já que o museu é pequeno e permitir que os turistas batessem fotos significaria um amontoado de gente em espaços pequenos.

Brochura
Brochura

Antes de chegar ao anexo, há vários documentos expostos,  exibição de entrevistas com as secretárias que ajudaram no enconderijo e maquetes de como o anexo secreto era na década de 40. Vale lembrar que toda a mobília foi retirada e Otto Frank, ao decidir criar o museu, não permitiu que o anexo fosse mobiliado novamente. Segundo ele, os cômodos vazios deveriam expressar a perda das vidas dos que lá viveram e assim continuam até hoje.

Finalmente, cheguei a falsa estante que escondia a porta que dava acesso ao anexo. Parei e fiquei alguns segundos tentando entender que estava no local que já tanto havia lido a descrição no livro. Wow, estou entrando onde a Anne Frank viveu por dois anos! A sensação é indescritível, um misto de emoção e incredulidade, como se eu conseguisse recriar na minha mente aquelas 8 pessoas passando seus dias lá na década de 40. As escadas que dão acesso aos andares superiores são muito estreitas e os degraus mais ainda. Na parede há trechos dos livros e no quarto que Anne dividia com Fritz, ainda há recortes de revistas e posteres que ela havia colado, tudo protegido por uma camada de vidro. Os ambientes são todos escuros, pois na época as grossas cortinas nunca eram abertas durante o dia, já que ninguém poderia perceber que havia pessoas morando ali. Os cômodos não eram pequenos, mas não eram suficientemente grandes para comportar seus moradores e provacidade não era algo que se tinha. O casal Frank e Margot dormiam onde também era a sala de estar e o casal van Pels dormia na cozinha. Fiquei poucos minutos no anexo secreto, meio boquiaberta achando incrível estar ali.

Na parte final da visita, há a exibição de outros vídeos, como trechos de entrevista de Otto, e outros documentos. Cara, o diário dela, Kitty, está exposto lá numa redoma de vidro! Meu, o diário! Tentei ler, apesar de estar escrito em holandês, mas fiquei mesmo observando a caligrafia (meio feinha, por sinal). Lembram-se que ela reescreveu o diário pensando em pública-lo? As folhas avulsas também estavam lá expostas. Incrível! Demais! Sensacional!

Finalmente, há um exposição dos 15 anos de Anne Frank e para cada ano de vida dela, há uma foto ou um objeto exposto. Uma foto me chamou a atenção. Nela, Anne está com uns 6 anos de idade com sua professora e seus coleguinhas de escola. Os 17 alunos judeus têm seu destino contado no lado da foto. A maioria não sobreviveu, assim como Anne Frank.

Eu fiquei com muita vontade de comprar o livro na lojinha do museu. Aí surgiu a dúvida: em português ou inglês? Como eu sempre parti do princípio que só faz sentido, pra mim, ler em inglês um livro originalmente escrito na língua, abandonei a ideia da versão inglesa. Porque se é para ler tradução, que seja na minha língua materna, né? (Ignorem o fato de eu estar lendo em inglês um livro originalmente escrito em alemão – tô na Irlanda, não tenho opção!). No fim, não levei nada, pois vi que a versão em português era de uma editora brasileira e enfim, por que pagar em euros algo que foi produzido em reais? No Brasil, eu garanto minha versão e leio pela 5ª vez. 🙂

Se você me aguentou falando de Anne Frank até agora, parabéns! Este é o  parágrafo que eu mudo de assunto. Cerca de 40% dos leitores já desistiram de ler este post a esta altura.

Saindo do museu, me toquei que eu não havia planejado mais nada para fazer naquele dia. Peguei o mapa da cidade e saí andando até chegar no museu de Amsterdã, que, obviamente, conta a história da cidade. Lembram-se que eu falei que visitar dois museus num dia me deixa mentalmente cansada? E a visita a Casa Anne Frank ainda estava pululando na minha mente. Decidi não entrar e fui ao pátio do museu descansar um pouco depois do almoço e aproveitar aquele calorzinho de 21 graus que há teeeeempos eu não sentia. E lá dentro, me deparei com isto:

Tamanho Bia, digo, miniatura!
Tamanho Bia, digo, miniatura!

É uma opção para ter a foto com as famosas letras, sem muitos turistas por perto, apesar de ser menor. 😉

Andei um pouco mais pelo centro, comprei lembrancinhas, fui a uma feirinha onde, fuçando os LPS, achei até um disco de lambada brasileira, cheguei ao Museu Judeu, mas estava cansada demais para encarar uma visita e o museu não parecia muito grande, dei mais uma volta na Red Light e, finalmente, voltei para o hostel, peguei minha mochila e segui para o terminal rodoviário para pegar o ônibus para meu próximo destino. 🙂

Havia mais o que se fazer na cidade, como visitar a Heineken Experience, ir ao Bar de Gelo ou fazer um tour de barco, por exemplo. Não quis ir no primeiro porque não bebo cerveja e não iria mudar nada na minha vida saber como uma bebida que eu não bebo é produzida; dispensei o segundo porque eu já passei muito frio aqui em Dublin e não tinha porque querer passar mais num pub todo feito de gelo; e o terceiro, bem, não tinha interesse nenhum de passear de barco, somente.

Curiosidades

* Há bicicletas por todos os lados! Amsterdã abraçou o meio de transporte com todo amor e carinho e há milhares delas espalhadas pela cidade. Jovens, adultos, idosos, moças, rapazes, pessoas bem vestidas, pessoas  de terno, enfim, todos andam de bicicleta. E por todo lado também há bicicletas estacionadas. O teu maior risco em Amsterdã é ser atropelado por uma delas, então preste atenção ao atravessar a rua e se ouvir o sininho tocando, saia da frente!

Detesto rosa, mas achei esta tão fofa!
Detesto rosa, mas achei esta tão fofa!

*Além das magrelas, a cidade ainda conta com ônibus e trem de superfície, os bondinhos, além dos carros e motos. Não bastasse isso, em várias ruas o limite entre a calçada e o meio da rua não é bem claro e a simples tarefa de atravessar a rua pode ser um super desafio!

É tudo junto e misturado!
É tudo junto e misturado!

*Os holandeses, em geral, falam inglês e falam bem! Um amigo que já havia visitado a cidade comentou que estava perdido no meio da rua e um mendigo se aproximou falando em holandês. Notando que eles não entendiam, mudou para inglês. Segundo este amigo, neste momento ele percebeu que estava num país de primeiro mundo, pois até o morador de rua era bilíngue. Pois é.

*Fiquem ligados com os preços de hostels! Na reserva não está incluso o imposto e você pode levar um susto quando for pagar a conta. Eu levei.

*Por toda cidade há banheiros públicos a 50 centavos. Mas se você for homem, pode se aliviar de graça num desses aí:

Curtiu a ideia?
Curtiu a ideia?

Não sei se gostei muito da ideia, porque o cheiro não é nada agradável.

*Descobri que é uma mania europeia (besta) colocar cadeados em pontes com as iniciais do casal e jogar a chave no rio para simbolizar o amor eterno. Isso parece mais amarração pra mim, mas tudo bem.

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Já havia visto em outras cidades da Europa

*Ou os hermanos migraram para lá ou os holandeses gostam muito de comida argentina, porque eu perdi as contas de quantos restaurantes argentinos eu vi na cidade!

Car-ne!
Car-ne!

*Nas lojinhas de souvernirs eu achei pirulito de maconha, chocolate de maconha, cookies de maconha, bala de maconha, camisinha de maconha, e enfim, maconha para todos os lados!

Gostei demais da cidade, me encantei por seu canais, sua flores e suas bicicletas! 😉