Dublin, we don’t belong together

No último post sobre o rolezinho na Europa (que eu levei praticamente 6 meses para contar tudo – ufa!), falei sobre aquela sensação de estar em Dublin e sentir que eu não pertencia àquele lugar. Pois vamos por esta história aí a limpo (e já pega a pipoca, que o post será longo).

Eu já tinha morado fora antes – fui au pair em Denver, Colorado, nos EUA entre 2008 e 2009. Foi minha primeira experiência longe de casa e foi uma ótima experiência. Eu adorava a cidade, pois apesar de ser uma cidade relativamente grande (500 mil habitantes na época), tinha todo aquele ar aconchegante de cidade pequena. O clima me agradava – verões quentes e secos e invernos gelados com muito neve, PORÉM, os dias eram sempre ensolarados e eu tinha minha dose diária de vitamina D e alegria. A família que me acolheu era ótima: me respeitavam, respeitavam as regras do programa, me incluíam nas atividades em família, me ajudavam com inglês e eu amava as crianças. Fiz amigas que até hoje mantenho contato. Tive a oportunidade de conhecer várias partes dos EUA e também viajar para a Europa e, como se tudo isso não bastasse, eu ainda tinha minha própria suíte e ganhava um pocket money que me permitia fazer tudo que estava com vontade: cinema, balada, compras, viagens. Foi um ano muito gostoso e que me deixa cheia de nostalgia. Não tive a oportunidade de voltar aos EUA ainda, mas certamente visitaria a cidade cheia de lembranças boas e saudades.

Pula aí uns 3 anos.
Entre 2012 e 2013 eu morei em Dublin, capital da Irlanda. Vocês já sabem que só fui fazer intercâmbio novamente porque a vida estava meio sem graça por esses lados e achei que morar fora de novo daria outra perspectiva de mundo pra mim. Ter sido au pair nos EUA realmente me marcou muito e despertou essa vontade de continuar viajando, conhecendo, descobrindo e aprendendo com outros lugares e culturas. E Dublin foi escolhida pelo simples fato de “ah, o visto é fácil e pode trabalhar”. Sei que agora a situação está mudando muito e as regras para visto de estudante estão mais rígidas, mas há 3 anos estava tudo muito fácil e o euro, muito baixo.

No começo foi tudo festa, novidade e alegria! Mas eu odiava o clima da cidade! Como as pessoas vivem e conseguem ser felizes passando dias e dias sem ver o sol brilhar no céu? Eu ainda tive o azar de pegar um dos invernos mais frios dos últimos tempos e isso me causou um trauma pra vida toda: eu detesto o frio desde então! Minha relação com o frio não era assim tão ruim antes de morar em Dublin. Em Denver eu cheguei a pegar -27 graus. ME-NOS VIN-TE E SE-TE. E lá nevava. Sabe neve? Aquela coisa que você acha super linda quando vê nos filmes e morre de vontade de ver porque, né, você é brasileiro e não tem dessas coisas por aqui. Neve é realmente muito legal no primeiro dia, super divertida no segundo, bacana pra caramba no terceiro, mas aí você precisa viver sua vida: sair, trabalhar etc e aquela neve toda passa a não ser assim aquela última Trakinas de morango do pacote. E ainda assim, o frio e eu ainda tínhamos uma relação amigável. Mas em Dublin é frio e chuva na sua cara sem dó, isso quando não vem aquele vento a 80km/h fazendo sua sensação térmica despencar e parecer que seu freezer é mais quentinho. E o sol? Eu preciso ver sol para me sentir feliz e Dublin não é assim exatamente um local ensolarado. Resumindo: eu detestava o clima da cidade e até hoje detesto sentir qualquer friozinho – e tô amando esse inverno paulistano 2015 fazendo 27 graus! ❤

Inverno em Denver - eu até achava legal!
Inverno em Denver – eu até achava legal!

“Putz, Bia, não aguentou um friozinho?”
Confesso que o frio que passei lá tem um papel importante nessa história toda, mas tem mais. Dublin é praticamente uma colônia brasileira e você pode tranquilamente viver lá sem falar inglês, porque até na sua escola você vai achar alguém pra te explicar as coisas em português. Ah, mas você pode fazer amizade com pessoas de outros países e ignorar os brasileiros. Pode, mas olha, você vai ter muito trabalho e tiro o chapéu se você me disser que morou lá um ano e conseguia manter distância de brasileiros. E é até natural a gente querer fazer amizade com o “igual” quando se está no exterior – eu, na reta final da vida de au pair nos EUA, só tinha amiga brasileira – a gente precisa procurar alguém que vai nos ouvir, entender nossa língua e saber do que estamos falando. Mas sabe, em Dublin isso excedia o limite. E bem, onde tem muito brasileiro vai ter muita coisa brasileira. Eu já não tinha paciência para páginas de facebook feita por brasileiros e todo aquele mimimi, e aquelas festas com música brasileira e záz. Eu compreendo isso quando a pessoa muda de país porque, sei lá, foi transferida pela empresa ou se casou com um europeu, mas quando a pessoa deliberadamente escolhe morar lá e para aprender inglês, desculpe, eu não entendo, não. Fizesse um CNA por aqui mesmo que economizaria mais.

Além de tudo isso, eu acabo associando Dublin com alguns eventos pessoais não muito agradáveis como o dia que arrombaram minha casa e roubaram meu laptop, o desaparecimento misterioso do meu passaporte e pessoas que não são assim tão legais e só conheci porque estava lá. É óbvio que muita coisa boa aconteceu também! Conheci pessoas maravilhosas que ainda são amigas, a família dos loirinhos era fora de série e pessoas mais que maravilhosas também e tirei meu CAE por lá. Mas enfim, nosso cérebro age de maneiras misteriosas, não é mesmo? E o meu agiu assim.

Pula 1 ano e meio.
Início de 2015 e lá estou eu passeando novamente pelas ruas de Dublin. Apesar de tudo isso, esse dramalhão mexicano que escrevi, eu ainda sentia muita saudade de Dublin, ficava a todo momento lembrando de lá, imaginava se um dia voltaria e enfim, eu realmente sentia uma nostalgia. Vocês nem imaginam minha alegria quando comprei as passagens para visitar a Fair City novamente. Aí, estou eu lá linda do baixo alto dos meus menos de 1,60 de altura andando pela cidade e tendo altos flashbacks da época que morava lá e passava regularmente por tais lugares e não estava tendo nenhuma reação além de reconhecer o local. Cheguei na casa onde morei e fuén… nada! Passei pelo centro e “oh, que legal, passei muito aqui” e só. Eu me senti um corpo estranho andando pela cidade que eu conhecia quase tanto como São Paulo. Foi aí que meu castelinho de saudade e nostalgia se desfez e percebi que, ehhh… até que foi legal na época, mas acabou. No hard feelings, o problema não é você, Dublin, sou eu. Não senti vontade nenhuma de voltar a morar lá ou sequer de voltar para visitar e fiquei com a clara sensação que aquela visita serviu como um “Adeus e obrigada por tudo”, pois agora estou pronta para deixar você partir.

Até então, eu ainda olhava no relógio e calculava que horas eram por lá e no app de clima do celular, eu ainda mantinha Dublin e sempre checava o quão horrível o tempo estava na cidade. Bem, eu ainda escrevia aqui no blog sobre a capital irlandesa! Tudo isso acabou quando peguei o avião de volta ao Brasil e tive a certeza que Dublin não era meu lugar. Não me entendam mal: não estou cuspindo no prato que comi ou desaconselhando quem quer que seja a ir para lá. Dublin é a mesma pra todos e, ao mesmo tempo, é única para cada um – e só você pode dizer aonde você pertence e se sente bem e, (in)felizmente, notei que Dublin não é mesmo meu lugar.

Apesar de tudo, acredito que a visita foi muito importante para eu finalmente me desapegar e focar em outros objetivos. Eu sempre vou lembrar das coisas boas que esse intercâmbio me trouxe e, com sorte, deixar no passado as coisas ruins que vieram como consequência disso também. Fico feliz por ter tido a oportunidade de fazer um segundo intercâmbio e com certeza aprendi e amadureci muito com todas as experiências boas e, principalmente, as ruins.

E com este post encerro o blog que comecei para escrever sobre a vida em Dublin. Oh wait… não encerro o blog literalmente, mas não vou mais escrever sobre Dublin – seja para falar de mudanças ou citar meus tempos lá, mas o blog continua. Meu segundo intercâmbio ficará por aqui apenas como arquivo, pois agora minha vida e, consequentemente, este diário online, mudam de rumo! Em breve começarei a escrever sobre “isso”. Eu sei que vocês devem estar imaginando que sabem o que vou fazer… eh, estão no caminho certo, mas tenho certeza que ficarão bem surpresos! 😉

[fazendo suspense para vocês continuarem lendo o blog]

Goodbye, so long, farewell!
Goodbye, so long, farewell!
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Sites preferidos

Antes de ir para a Irlanda eu buscava informações em sites e quando estava lá, continuava fuçando alguns sites e páginas atrás de informações…

Semana 14 – Sites preferidos

É um pouco difícil escrever sobre isso, porque alguns sites/blogs/páginas que lia na época, hoje acho um porre ou não são mais atualizados ou não existem mais. Por isso, só vou deixar o nome sem o link. E aqueles que hoje acho um porre não vou nem incluir na lista.

1- DublinBr

Nasceu como um site para ajudar intercambistas a se conhecerem e tirarem dúvidas e era um esquema meio rede social. Conheci muita gente pelo site, mas hoje ele não existe mais.

2- Classificados Dublin

Página do Facebook para brasileiros em Dublin. Nos meus primeiros meses, não saía da página, mas depois de um tempo cansei e comecei a achá-la um porre, cheia de gente falando mais do mesmo e fazendo as mesmas perguntas de sempre, fora alguns momentos baixaria. Quando não precisei mais da página, parei se segui-la sem dó e nunca senti saudade. Porém, é bem útil para quem acabou de chegar na cidade.

3- Vida Intercambista

Um blog que achei sem querer e na época ainda era atualizado. Era escrito por um rapaz que já havia morado em outros lugares antes e contava sobre a vida dele na Irlanda de um jeito meio diferente. O blog era muito bem escrito, o que certamente me encantou. Infelizmente, o rapaz parou de contar suas aventuras antes de voltar pro Brasil e nunca descobri como acabou o sonho irlandês dele.

4- CambioBr

É uma casa de câmbio com um dos valores mais vantajosos que encontrei. Antes da viagem, entrava todo dia para acompanhar o valor do câmbio do euro que, naquela época, não passava muito de 2,60. Ah, não estou indicando a casa de câmbio e nem “desindicando”, só pra deixar bem claro.

5- Au Pairs World

Site para procurar vagas de au pair. Há vários, mas este é um dos que mais gostei e entrava sempre para ver perfil de famílias irlandesas e tal. A família M. me achou neste site.

Sobre a percepção de calor

São Paulo está tendo um dos verões mais quentes dos últimos anos e as temperaturas estão passando fácil dos 30 graus todos os dias. As pessoas reclamam do calor (mas o negócio é reclamar, porque em julho reclamam do frio também), querem ventilador e ar condicionado ligados na potência máxima. Reclamam que transpiram muito, que não conseguem dormir à noite, que está tudo um inferno de quente. Enfim, as pessoas estão incomodadas. Mas não eu, eu não estou incomodada. Eu nem sinto tanto calor assim, apesar de ter a certeza que nunca passei um verão tão quente, pois nunca antes nos meus 26 anos de vida havia precisado lavar os cabelos diariamente porque a raiz fica encharcada de suor (sim, eu saio de casa e sinto minha cabeça inteira ficando molhada- passo a mão próximo a raiz e é só suor!). Mas ainda assim, o calor não me incomoda porque eu não sinto todo este calor (apesar do suor no cabelo) e só me dei conta disto realmente esta semana, ao estar caminhando e ver que o termômetro de rua (São Paulo está cheio deles agora) marcava 35 graus e eu não estava morrendo de calor. Sério, eu não estava mesmo, pelo contrário, estava curtindo o calorzinho enquanto caminhava.

Eu não fiquei uma noite sem dormir por conta do calor (aliás, tem noite que até durmo com um edredom leve), eu não abri a minha boca para reclamar dele nem um dia sequer. E eu entendi que minha percepção de calor está diferente do resto da população paulistana e diferente do que era antes de eu ir para a Irlanda.

E isso aconteceu quando eu voltei dos EUA. O inverno lá foi tão rigoroso quando era au pair (chegou a -27 graus, com uma média de 10 negativos e dificilmente passando dos 2 graus e neve, muita neve) que quando eu cheguei aqui, no inverno, eu não sentia frio. Ano passado, duas semanas depois de eu ter voltado da Irlanda, as temperaturas em São chegaram a 6 graus (o que é muito frio para o padrão paulistano), eu via todo mundo saindo com várias camadas de roupa e eu só com um casaco. E agora é o tal calor que não me incomoda! Devo ter sentido tanto frio na Irlanda por tanto tempo que parece que ainda estou compensando! hahaha…

E a previsão para a semana que vem é de ainda mais calor (acho que passa dos 35!) e eu estou feliz da vida, usando todos os meus vestidos e saias por aí! Climaticamente falando, estou mais feliz no forno paulistano do que estava na geladeira irlandesa em janeiro passado! Mas claro, eu sou a unica paulistana que não tem reclamado… hehe…

Depressão Pós Intercâmbio

Fato ou frescura?

Apesar da sua família e amigos acharem uma baita frescura da sua parte você dizer que está achando tudo estranho (“Mas tu morou aqui a vida toda e com só um ano fora tá assim, moleque?”), há estudos que compravam que sim, a tal depressão existe mesmo, e também é chamada de síndrome do regresso (e eu não sou psicóloga nem entendida no assunto e não sei explicar a diferença de uma síndrome para uma deprê- tudo que sei é que a gente fica estranho mesmo)!

Há quase dois meses no Brasil, já consigo comparar os meus retornos à pátria amada e idolatrada ao país. E eles foram muito diferentes.

Há 4 anos eu retornava depois de pouco mais de um ano morando na Obamaland nos EUA. Eu tinha 21 anos, aquela havia sido minha primeira viagem internacional e claro, meu primeiro intercâmbio. No período em que estive fora, eu viajei muito mais do que já havia viajado até então. Fui a Los Angeles, San Francisco, Las Vegas, Grand Canyon, New York, New Jersey, Connecticut, Aspen, além de ter ido pela primeira vez a Europa: Inglaterra, França e Itália. Vi neve pela primeira vez, esquiei pela primeira vez, viajei sozinha pela primeira vez, cuidei de crianças (e me apaixonei) pela primeira vez. Experimentei comida mexicana, tofu, corndog, refrigerante de creme e blueberry. Vivenciei toda a cultura dos judeus americanos e entrei numa dieta kosher. Conheci um mundo completamente novo! Foi muita informação, muitas descobertas e muito aprendizado e aí… puff! Voltei para a vida que havia deixado um ano antes. E que continuava exatamente como eu a havia deixado. Só que eu estava diferente. Não só porque então eu já falava inglês com segurança ou havia viajado. Havia algo completamente novo dentro de mim e veio o choque: parecia que tudo aquilo que eu havia vivido no último ano da minha vida havia sido um sonho, que nada era real. E eu não falo metaforicamente, eu realmente me perguntava se eu havia feito tudo aquilo, mas eu via as fotos e tudo indicava que sim, foi real. Eu estava de volta ao Brasil, sem emprego, sem viver nada novo, numa rotina de acordar ao meio-dia, ficar na internet, ir para a faculdade, voltar e ficar até altas horas da madrugada online. Eu me sentia só, incompreendida e não havia com quem falar.

...

Entendam que meu problema não foi me arrepender de ter voltado-  eu gostaria de ter ficado mais tempo nos EUA, mas não queria necessariamente voltar. Não foi achar que o Brasil é uma droga e os EUA são tudo de bom e maravilhoso- não sou dessas. NÃO! O problema foi me sentir deslocada por ter tido tantas experiências e ter voltado com uma bagagem cultural gigante e tudo continuar extamente como estava.

Isto durou alguns meses. Aproveitei que não estava trabalhando e me dediquei a faculdade para ocupar a mente (depois de superar uma crise existencial em relação ao curso de Letras- o que até merece um post futuramente) e lembro até hoje que mesmo cursando 10 matérias (o que é muito pesado) eu consegui média 9,1 naquele semestre (não sou apenas um rostinho bonito, gentchi). Esta depressão pós intercâmbio passou, definitivamente, quando comecei a trabalhar, conheci outras pessoas, voltei à realidade e ocupei minha mente. Só digo uma coisa: foi TENSO!

Aí, em 2013, eu volto da ilha dos leprechauns. Foi tudo completamente diferente! Confesso que um dia ou outro bateu uma tristeza e como já escrevi em outro post, achei as coisas por aqui meio estranhas. Mas a tristeza durou muito pouco e o estranhamento passou rapidinho. Em partes porque nos meus primeiros dias, eu mal parei em casa saindo para ver amigos (coisa que não fiz quando voltei dos EUA). Já coloquei os pés aqui com emprego, matriculada na faculdade e por último, mas não menos importante, sabendo que eu não iria mais passar taaaaanto frio! Em outras palavras, o bichinho da deprê não me pegou desta vez!
[Estudos comprovam que cerca de 70% dos leitores já pararam de ler este post ou pularam para o parágrafo final].

Como assim, Bia? Conta aê!

No meu ano na Irlanda eu conheci outros 8 países, experimentei Kopparberg *suspiros*, cuidei de crianças (e me apaixonei outra vez) e enfim, tive muitas experiências também e sim, a sensação de deslocamento também bateu na porta de novo, como eu contei de forma muito confusa aqui. Mas além de eu já ter tido a experiência e, consequentemente, ter conseguido lidar melhor desta vez, alguns outros fatores foram muito relevantes:

Maturidade– Senta aqui, meu neto, vou te contar minha história. Ok, não sou tão velha assim, estou na flor dos meus meus vinte e alguns anos, mas vamos combinar que dos 21 para 25 anos a gente amadurece bastante e ter sido completamente independente durante o último ano te força a amadurecer ainda mais. E isto, claro, te faz encarar a vida de uma forma diferente.

Deslumbramento– Na verdade, a falta dele. Lembro-me bem até hoje quando cheguei no aeroporto de Washington DC, onde pegaria meu voo de conexão para Newark para fazer o treinamento de au pair. Fui ao banheiro e fiquei boquiaberta quando vi a descarga automática! Eu achei coisa de outro mundo! Isso é para ilustrar que tudo me deslumbrava. Eu mal conseguia acreditar que estava em solo americano quando desembarquei por lá. Já minha última viagem europeia foi tipo “Tô na Holanda. Será que o hostel serve café-da-manhã?“. Parece paradoxal, mas o novo se torna normal e conhecer outro país já não causa tanto furor. O fator deslumbramento sumiu. A Alemanha pode ser tão legal quanto o Brasil, dependendo do que estamos falando. Sacou?

Brasil versus o resto do mundo – Aquela história do fulaninho que conheceu as Zoropa e acha que tudo no Brasil é uma droga e tudo fora do Brasil (e da América Latina, de preferência) é o máximo! Brasil tem problemas? Tem. A Irlanda é perfeita, né? Vai abrir sua conta no banco e aí vem falar comigo, por exemplo. Eu abomino esse pensamento com todas as minhas forças. Eu sou de São Paulo, meo, e desde que voltei da Irlanda passo perto de ter surtos psicóticos pegando o transporte público, sofro com a poluição (rinite mandou lembranças) e passei a sentir muito mais medo de voltar sozinha para casa à noite. Mas amo a comida brasileira e a variedade de doces que temos (a balança que o diga, já engordei 2kg desde que cheguei), nosso clima não me dá deprê, nosso sistema bancário é o melhor do mundo e enfim, chega desse mimimi alienado de achar que Brasil não presta. A pessoa achar que tudo no país que morava era melhor não ajuda em nada no retorno.

!!!
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Juntei tudo isso numa panela, levei ao fogo médio e mexi bem até dar ponto. Fiz brigadeiro e a vida aqui no Brasil vai muito bem, obrigada! Sinto saudade imensas da Irlanda, ou melhor, do que ficou por lá. E como saudade dói, eu tento simplesmente não pensar a respeito do que a desperta – soa frio e calculista, mas essa foi a forma que achei para lidar com ela há muito tempo!

Parabéns para você que leu o texto inteiro sem dormir! 🙂

Para terminar, tem um pouquinho de informação sobre a síndrome do regresso aqui, aqui e aqui. Mostre estes links para o povo que insiste em dizer que você está de frescura! 😉

Voltou por que?

Por que a Irlanda atrai muitos brasileiros? Essa é fácil de responder: facilidade de visto, preço razoável e, claro, a possibilidade de poder morar no país por até 3 anos com o visto de estudante. Ao decidir renovar o visto por outro ano, tudo que o intercambista precisa fazer é se matricular novamente num curso de inglês de 26 semanas, comprovar 80% de frequência no curso anterior e pagar a taxa de emissão do GNIB na imigração. Tudo muito simples.

Eu já estava bem acomodada na Irlanda e tinha emprego que pagava o suficiente para eu pagar todas as minhas contas, fazer umas comprinhas de vez em quando e guardar para viajar. Por que, então, eu não renovei, oras?

Confesso que durante meses eu não sabia bem se ficaria um ano ou renovaria. Não tinha fortes motivos para voltar, mas também não tinha para ficar. Numa semana daquelas, eu decidi que iria mesmo voltar e comecei a contar os dia para ir embora. Um bom motivo que todos que acompanham o blog sabem bem foi o frio. Não sei se teria condições psicológicas de passar outro inverno na terra dos leprechauns. Sim, psicológicas. Eu detesto passar frio (e se você nunca saiu do Brasil, não me diga que gosta do frio porque, NÃO, você nunca passou frio de verdade). Há um mês, mais ou menos, fez muito frio para o padrão paulistano, as temperaturas chegaram a 6 graus e todos reclamavam e saíam de casa encapotados- eu senti frio, mas ainda assim, achei muito suportável e tranquilo. E fez frio por uns 5 dias. E saiu sol. Na Irlanda, no inverno, 5 graus é temperatura máxima, venta demais e por dias e dias, ao olhar para o céu, só se vê nuvens cinzas, nada de sol. Amanhece quase às 8h e no auge, em dezembro, às 16h30 já está escuro. É frio de meados de setembro à meados de abril. Eu não tinha condições psicológicas de lidar com isto novamente- bate uma deprê, a vontade de sair casa é quase inexistente e parece que o dia não rende.

E Morrissey, para variar, fala por mim- até sobre a deprê de um inverno melancólico.
“Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey”

A essa altura ou você está me achando exageradamente dramática ou chata. Até que você tem razão, mas não foi fácil – pra mim- passar muito frio por tantos meses.

Supondo que na Irlanda só fizesse muito frio de dezembro a fevereiro, como em Denver, CO, onde morei por um ano e moraria fácil o resto da vida, caso fosse uma opção, eu teria renovado? Não!

Há momentos da vida que a gente vai seguindo o fluxo e vivendo com o que vai aparecendo e há aqueles momentos em que estabelecemos objetivos, metas, prazos… whatever! No início do intercâmbio estava vivendo o hoje todo dia, mas quando tive o click de voltar comecei a pensar em prioridades, motivos e objetivos e foi quando notei que Irlanda, sua fria, não dava mais mesmo.

Muita gente decide que vai ficar mais um ano porque ainda precisa melhorar fluência no idioma. Oras, eu já era professora antes mesmo de ir para lá, ou seja, este não era um motivo. Além disso, eu pouco falava inglês lá já que convivia com muitos brasileiros. O interessante, por assim dizer, é que a maioria dos que decidem ficar para melhorar o inglês, não focam nos estudos por conta do trabalho (mas esta “polêmica” fica para outro post).

No Brasil eu tenho diploma de ensino superior e profissão reconhecidas. Na Irlanda eu era uma estrangeira que falava inglês muito bem e só. Meu diploma não tinha validade nenhuma e quais as chances de alguém dar emprego de professor de inglês para uma estrangeira? Eu precisaria, no mínimo, ter conseguido o CPE e fazer o CELTA para  tentar. E dar aula de português, well, quantas pessoas por aí têm interesse no idioma? Não daria para me manter assim por muito tempo. Ficar outro ano na Irlanda, então, significaria outro ano num subemprego. Calma aí, não estou criticando quem tem um subemprego, afinal, eu fui babá por quase todo o tempo em que morei lá e adorava a família M. e os loirinhos que eu cuidava, mas isso é bom por um tempo. É aquela história de o fim justificar os meios: eu queria morar fora um ano e viajar, eu não nasci nem em berço de prata o que dirá de ouro e precisava me manter lá- subemprego, vem ni mim! A questão era: valeria a pena ficar outro ano cuidando de crianças (lindas) em troca de algumas semanas de viagens pela Europa (que seria minha única meta)? Já dizia um bom amigo meu: você ganha um ano de Irlanda, mas também perde um ano de Brasil. E eu iria perder outro ano de trabalho (oi, aposentadoria), a Licenciatura e enfim, adiar quaisquer planos que tinha na volta. Claro que morar um ano fora não é perder no Brasil, pois profissionalmente falando, é sempre positivo uma experiência no exterior. Só que UM ano basta.

E eu comecei a sentir falta da vida no Brasil, com todos os seus problemas, mas senti. Sou movida a objetivos, vivo o presente pensando como vou alcançar algum objetivo daqui um ou dois anos. Antes de ir para a Irlanda, este era meu objetivo: eu aguentava trabalhar em n lugares diferentes, ir para faculdade duas vezes por semana e fazer estágio porque sabia que largaria tudo em algum momento para viajar. Na Irlanda eu vivia o hoje, mas com o objetivo de viajar sempre que possível e tirar certificados de proficiência, mas no segundo ano eu ficaria com aquela sensação de não estar fazendo nada de útil lá, entende? Abrir mão de outro ano no Brasil a troco de algumas semanas viajando não me pareceu mais tão vantajoso. Afinal, posso continuar minha vida por aqui e ainda assim, viajar algumas semanas por ano (inclusive, para Europa).

Eu não tinha bons motivos para ficar num país frio com um subemprego, sem estudar algo realmente relevante para minha vida. E eu voltei. 🙂