O caso da bicicleta

Quando estamos morando fora, longe de tudo e todos que conhecíamos como realidade até então, tenho a impressão que as coisas tomam proporções gigantescas, principalmente em situações ruins. Eu fiquei extremamente chateada quando roubaram meu laptop na Irlanda e justamente por não estar no Brasil, eu senti que me atingiu muito mais.

Por já ter sido roubada enquanto fazia intercâmbio, entendi bem o que a A., minha amiga da Indonésia, sentiu quando percebeu que sua bicicleta já não estava mais onde ela a havia deixado, bem frente ao prédio onde moramos. Apesar de Oulu ser relativamente segura e as pessoas apenas travarem a roda – não é comum “amarrar” a bicicleta em algum lugar fixo -, roubos acontecem e aconteceu com ela.

O consolo foi que ela ganhou a bicicleta usada de um casal indonésio que ela conheceu aqui, então das perdas, a menor. Mas ainda assim a sensação de ter algo seu tirado é realmente ruim. Isso significava perder o principal meio de transporte, um eventual gasto com uma nova bicicleta e custos com passagem de ônibus nas eventuais saídas. E como a chance de encontrar a bicicleta era mínima, o que não tem remédio, remediado está.

Dez dias depois eu marco de passar na casa de um conhecido, que mora a uns 5 minutos do meu prédio, para ver uma peça de roupa de frio que ele estava vendendo (aqui é extremamente normal as pessoas venderem e comprarem coisas usadas, especialmente estudantes). Saí da aula da manhã e fui até lá pedalando. Ele mora num conjunto de prédios na rua da universidade – deve ter quase 50 prédios e cada um com 3 entradas. Chego em frente ao prédio dele e percebo que tem vagas para parar a bicicleta. Breco, desço da bike e a apoio no suporte. Olho para o lado e vejo uma bicicleta roxa que, de alguma forma, me pareceu familiar. Olho mais atentamente e vejo que ela tem duas cestas traseiras… OMG! É A BICICLETA DA A.!!!

Liguei para ela e disse pra me encontrar imediatamente, pois eu havia encontrado sua bicicleta!

Qual é a chance de se encontrar uma bicicleta roubada? Qual é a chance de a bicicleta estar parada em frente ao prédio de um conhecido meu? Qual era a chance de eu ir no prédio e parar a minha bicicleta justamente do lado da bicicleta dela? Como nevou na noite anterior, a bicicleta estava coberta de neve e eu vou confessar que eu não ia ficar olhando em volta e só notei mesmo que era a bicicleta roubada porque eu parei exatamente do lado dela! É muita teoria do caos pra uma situação só!

O mais engraçado é que a bicicleta estava do mesmo jeito como no dia que foi roubada e a corrente ainda na roda dianteira. Depois disso, as perguntas pairavam no ar! Quem fez isso? Por que roubou a bicicleta e a deixou em outro lugar tão próximo? Foi isso um roubo mesmo ou apenas um finlandês bêbado brincado de esconder coisas alheias? Ou a pessoa só queria sacanear alguém? Se tivesse sido na Irlanda, eu diria que tinha sido os leprechauns.

Indagações sem respostas e mistérios à parte, é sempre bom ajudar um amigo – mesmo que tenha sido completamente sem querer!

A paisagem do local do achado
A paisagem do local do achado

7 comentários sobre “O caso da bicicleta

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