“Xenofobia (do grego ξένος/ xénos: “estranho”; e φόβος/ phóbos: “medo.” ) é o medo, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que vêm de fora do seu país.” Isso não sou eu quem diz, mas o Wikipédia.
Eu nunca sofri com xenofobia nem nos EUA nem na Irlanda e não sei o que é ser discriminada por não pertencer ao país – não que isto não exista nos citados países, mas não aconteceu comigo nem com ninguém que eu tenha conhecido. Este post não é contado a partir do ponto de vista de quem sofreu xenofobia, mas de quem a testemunhou. No Brasil.
Na semana passada estava voltando para casa de metrô depois de ir a um festival de bandas cover (Smiths <3). Peguei a linha amarela que ainda está em expansão e costuma fechar as estações centrais aos finais de semana ou funcionar com velocidade reduzida e maior intervalo entre os trens – coisa que todo paulistano já sabe. Por conta disto e apesar de ser um sábado, a plataforma ficou cheia e quando o trem finalmente chegou, o vagão ficou lotado. Fiquei na porta e do meu lado parou um homem exalando cerveja, porém não parecia bêbado. Acredito que ele tenha entrado naquele esquema “empurrar bem sem ver quem” e um rapaz que estava próximo a ele ficou incomodado e falou que ele não precisava fazer aquilo e ele não havia gostado de ser empurrado – e o vagão nem estava tão lotado assim. O homem, que estava na casa dos 50, respondeu que se ele não havia gostado, que saísse, pois no metrô é assim mesmo e não existe essa de pedir licença. O rapaz, bem de boa, respondeu que ele poderia sim ter pedido licença, não ia fazer mal algum. Só que nesta hora algo que não havia sido notado antes ficou claro na fala do moço: ele tinha sotaque hispânico – não era daqui.
O homem, então, retrucou em outro tom. “Aqui as coisas funcionam assim, ninguém discute no metrô por causa de empurrãozinho. Na nossa casa é desse jeito que funciona. Sai daqui, volta pra sua casa.”
O rapaz ficou em silêncio, certamente querendo evitar confusão. Eu virei os olhos de indignação. Os demais passageiros só observaram, mas notei algumas caras de reprovação. Quando chegamos na estação seguinte, onde muitos descem, dois homens que estavam perto de mim começaram a tirar sarro. “São Paulo é muito grande, viu? Não precisa ser tão espaçoso, cabe todo mundo.”
Eu fiquei muito ofendida com a atitude do homem em relação ao estrangeiro, porque eu já fui a estrangeira, mesmo que temporariamente, em dois países e sei bem como me sentiria péssima se alguém me destratasse pelo simples fato de eu ter nascido em outro país. E isso me levou a refletir sobre outras coisas. Brasileiros quando imigram querem ser respeitados, não é? Saem do Brasil procurando melhores condições de vida – seja a trabalho ou para estudar e querem ser tratados bem. Temos a fama de ser um povo super amigável e receptivo que adora um gringo – mas, claro, depende do gringo.
Separamos os estrangeiros em dois grupos: o dito gringo que é o europeu, o americano, aquele dos países de primeiro mundo e estes merecem respeito, lógico. E tem os latino-americanos, os africanos, aqueles que a gente não dá nenhum prestígio, mas que imigram pra cá procurando exatamente a mesma coisa que a gente procura na Europa e nos EUA: melhores condições de vida. Quantas e quantas vezes eu não ouvi comentários pejorativos sobre bolivianos? Frases de preocupação por notar como o número de bolivianos têm aumentado na cidade? Ou então, sobre os coreanos? Médicos cubanos? Por que separamos os estrangeiros em duas classes: as que merecem respeito e as que merecem xenofobia? Por que um americano é bem recebido e um peruano é discriminado? Que critério tosco é esse?
Eu não tenho a resposta pra isso, mas acredito que se nos colocássemos no lugar do estrangeiro, certamente mudaríamos de atitude e eu, definitivamente, sempre me coloco no lugar do imigrante latino e me sinto ofendida toda vez que ouço um comentário preconceituoso ou pejorativo sobre eles.
E sabe o que é pior? O homem não gostou que o moço pediu respeito e começou retrucando o argumento, por assim dizer, do rapaz. Quando notou que ele era estrangeiro, desviou sua ofensa do conteúdo (me respeite) para o sujeito (o estrangeiro), o que só prova o quão babaca aquele cara era. Aliás, isso tem nome: ad hominem. Quando o sujeito não consegue argumentar contra o argumento do outro, passa a atacar a pessoa que não compartilha da sua opinião. Vocês já devem ter visto isto várias vezes: duas pessoas discutem por causa de um lugar na fila e de repente, uma delas começa a usar como argumento o fato da outra ser gorda ou muito baixa ou [insira aqui seu adjetivo]. Isso só prova que o cara conseguiu ser babaca duas vezes: quando foi xenófobo e, consequentemente, quando atacou a pessoa e não seu argumento.
Xenofobia não é só descaradamente declarar que não gosta de estrangeiro. É fazer comentários maldosos (não sou preconceituoso, mas esses africanos…), piadas (não se ri do oprimido, mas talvez do opressor – quando as pessoas vão aprender isso?) e julgar a pessoa baseando-se só nisso. Porque, afinal, todos os 200 milhões de brasileiros têm a mesma personalidade, mesmos valores e modos de ver o mundo, assim como todos os bolivianos ou cubanos. Afff.
Clap clap clap! Foda, né? Mas olha, vejo isso por aqui tb, sabia? Por aqui, europeu, americano, australiano, canadense e 1o mundo em geral tambem sao os imigrantes legais e que devem ser respeitados…ja os africanos, asiaticos, indianos…nao sao nao….
Sao, em quanto tao la no subemprego…a hora que nao, ja rola discrimancao.. nao de todos, mas de algumas pessoas.. Ja ouvi cada comentario (nao em relacao a mim, mas em relacao a oturos imigrantes, o que me afeta do mesmo jeito).
Aquilo ne, sempre, em qq lugar, vao se pagar pau pra gente de paises melhores e esnobar o de paises piores..
“depende do gringo” isso resume bem a disposição do brasileiro para com o estrangeiros
Excelente, Bia!
O que o Rick falou é verdade: também já ouvi comentários preconceituosos por aqui.
nunca ouvi nada em relação a brasileiros, mas ouço em relação aos africanos, indianos e os do leste europeu – poloneses, romenos, noooosa, são bem mal-vistos aqui.
Xenofobia é uma coisa horrível, e infelizmente tá em todo lugar. 😦
Sim, como eu disse, nunca aconteceu comigo ou com ninguém que eu conheça, mas sei que isto existe em todo lugar e a Irlanda é um país que recebe muitos estrangeiros, seria difícil isto não acontecer por lá.
Ah!!!!!!!!!!!!!!!! e euzinha que sou nordestina? não posso nem ir na Av. Paulista correndo o risco de me pegarem…… até posso ir, só não posso abri a boca que já me entrego..Isso porque filha da nação.